EMOÇÃO BOA
 
         Acordei sentindo felicidade.
         Deitada e coberta, um friozinho de chuva entrando pela janela aberta. Os olhos abrindo para o dia, a percepção ampla foi o maior movimento da vida do corpo ainda sem se movimentar no leito quentinho. Há dias assim, que a percepção das coisas, dos significados e dos sentidos atuarem antes que se mova um dedo ao despertar.
         É tão bom o estado de feliz, que um tempo é necessário para maturar essa sensação de feliz... E, por ser tão raro tal momento, a própria percepção protege e corpo de ficar quieto dando um prazo ao sentir o bem estar. É perfeito. O mínimo de tempo que transcorra é de uma amplitude que compensa anos de tempos já percorridos. Aliás, este “tempo” não tem dimensão. É como a canção, não tem medições. Segurar-se assim nesta “imobilidade não medida” conta mesmo como uma imensa dose de algo bom de sentir. Eu poderia dizer que o tempo de sentir é o tamanho que a gente mesmo se dá, tal o bom da percepção e senti-la.
         Depois os movimentos, irremediavelmente, começaram a se processar, pois corpo físico não consegue ficar imóvel só por que o sentimento sentiu felicidade. Como todo bem estar, não pode ser só espiritual, a matéria move: pernas e braços começam a se moverem suavemente para não perder este momento mínimo imensurável no plano subjetivo, que é o sentir felicidade, plena talvez. Pois rara.
         Pois é, acordei feliz. Qual o motivo? Sei lá. Há dias que acontece acordar assim, pois a vontade de ser feliz é maior que ser ou não ser.
         Claro, que vou encontrar motivos para estar feliz. Pode ser que os passarinhos estejam alegres lá na varanda aguardando as atenções do dia. Pode-se dizer que a vida é linda. Mesmo que não seja, mas a querência de sentir a felicidade é tal, que mente e corpo conseguem nos criar uma condição excepcional em que conseguimos sentir um “lapso de felicidade” mesmo no lugar e no tempo onde nem haja mais espaço para ela se alegrar e ocorrer.
         Esse átimo de tempo ou de ser é precioso e a gente acaba preservando e nos dando a nós mesmos e, é o máximo que conseguimos e é hora, é real, é a excelência. Por mínimo que seja nos é tão válido, nos é tão grande que é maior que o macro do realismo cotidiano; e nos redime do que reclamamos das horas insanas. Enfim é belíssimo, é boníssimo. E vale tudo que não foi e não é vivido de bom.      Deus nos dá meios de nos suprirmos de felicidade, mesmo sem as condições mais imponderáveis da realidade vivida.
         Em verdade, esta que está querendo se expressar é a linguagem espiritual. E essencial.
         E quando o mundo físico se faz em movimento e atuação, eu ainda fico possuída daquele bem, transformando todas as demais coisas em “coisas melhores e tudo aceitável e bom”. Meu coração foi regado desse regogizo hoje e, até agora, horas passadas, estou bem e feliz, mesmo meus olhos marejados de uma emoção indefinível e só restauradora de eu mesma.
         Se pensamento pode haver, ocorre-me que não aceitemos desafios propostos de outros, aceitemos os nossos próprios desafios e tudo irá bem.