CRUÉIS E AUTÊNTICOS
"A verdade pela verdade é crueldade.
A verdade pelo amor é crescimento."
W. Bion
O que uma pessoa cruel e outra, autêntica, poderiam compartilhar? Ambas diriam exatamente o que pensam sobre você e seus atos? Qual a fronteira entre os cruéis e os autênticos? É possível dizer "a verdade, somente a verdade e nada além da verdade" o tempo todo?
Lembro de uma comédia do cinema chamada "O Mentiroso", com o ator Jim Carrey. E essas perguntas foram respondidas ali com humor. Quem diz a verdade todo o tempo inviabiliza suas relações. E a questão dos limites, em um mundo cada vez menos propenso a tolerá-los, permanece. Assim como a questão: quando a autenticidade cruzaria o terreno da crueldade?
Penso que o limite seja determinado pela ética. E da compreensão sobre a conduta, capaz de afetar terceiros, nasce o respeito ao próximo. É a consciência de que o outro existe e pode ser atingido por atos e gestos que emerge a noção ética.
Posso e devo dizer o que penso. Porém, se por liberdade entendo nenhum "empecilho" a impedir meus movimentos, é facilmente compreensível a noção de espaço. Se este espaço tem limites, somente poderei entender e respeitá-los se admitir a idéia de que o outro possui seu espaço de liberdade.
Como liberdades convivem sem noção de respeito mútuo?
Dar nome aos bois preserva a liberdade de uma série de atitudes que nada tem a ver com o direito a expressar o pensamento. Liberdade não é passaporte do império do desejo (ninguém, em tese, é imperador), mas asas do pensamento conectado de alguma forma à realidade.
Qual o sentido da liberdade sem ética?
Se não desejo refletir o sentido, ser cruel ou autêntico não fará a menor diferença.
(*) Imagem: Google
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