DEPOIMENTO IV : O ÁLCOOL E EU/2007
Recaí depois de um ano, em 20/03/07. Recaí feio. Foi a recaída mais desastrosa da minha vida de alcóolica. Internei-me pela quarta vez no Hospital Regional, fiquei lá dez dias e dpois fui para uma clínica particular, a Psico Clínique, levada por minha psicóloga Maria Lucia. Lá passei a ser tratada pelo psicanalista Dr. Renan Selligmann. A internação durou um mês e aí começou a minha redenção. Iniciei a escalada para sair do fundo do poço. Desde então, acompanhada por eles, nunca mais bebi. É claro que não foi fácil. Muita análise, medicação, busca da fé. Altos e baixos no humor, muito cuidado com o estress, evitar ambientes de risco, evitar SEMPRE o primeiro gole. E escrever... as vezes, dependendo do meu estado de espírito, saem coisas meio baixo astral, mas, em outras, consigo escrever maravilhas!
Logo que saí da Clínica, eu tinha sentimentos contraditórios, a depressão me pegou várias vezes e pela cabeça me passavam sentimentos negativos, frustrantes. Vou colocar alguns para que as pessoas tenham idéia que isso é normal no processo de recuperação de um alcóolatra:
_ Sentia uma tristeza imensa que chegava a causar dor física no peito. Essa tristeza se manifestava de manhã, ao acordar, e a tardinha quando voltava para casa. No trabalho não sentia (daí a importância de ocupar a mente). Em casa, me vinham a cabeça todos os desmandos que fiz, os estragos que a bebida fez em mim, a minha impotência perante a bebida; o fato dela ser mais forte do que eu e eu não conseguir vencê-la. Ou seja, beber como uma pessoa normal. Eu queria saber beber, poder sair, curtir uma festa. E me sentia como se estivesse frente a um paredão, com armas apontadas para minha cabeça. E a arma era a bebida.
_ Achava que as pessoas só amavam minhas qualidades. Eu sempre amei as pessoas pelo que elas são e não como desejaria que fossem. Porque é muito fácil amar só o que é bom...Tá certo que não devia ser fácil amar o meu lado negro... Osvaldo Montenegro diz em A LISTA: "Quantas pessoas que você amava, hoje acredita que amam você". Pensando nisso e examinando a resposta das pessoas ao meu beber, chegava a pensar que não era amada por ninguém...
_ Sentia ausência de sonhos... parecia que nada mais tinha sentido. Outra vez Osvaldo Montenegro: "Faça uma lista dos sonhos que tinha, de quantos você desistiu de sonhar". Minha lista de sonhos estava zerada! Olhava p'ra trás e me parecia não ter construído nada. Olhava p'ra frente e não via nada a construir. Olhava o meu presente e não tinha nada que me desse alegria e nele os sonhos não existiam. Quem pode viver sem sonhos? Sem alegria? O que eu tinha de concreto? Remédios, remédios... e viver me policiando para não cair no primeiro gole. Não tinha a mínima graça! Só sentia prazer no trabalho! Mas, o trabalho é algo concreto e eu precisava de sonhos para viver. Eu não consigo ser igual a tanta gente e ver na vida apenas o levantar da cama, comer, trabalhar e dormir. Sempre tive atividade mental e intelectual muito grandes. Eu penso, procuro respostas e leio demais. Eu aprendi demais, eu fui mais longe do que o normal das pessoas na minha busca interior, nos "por quês" da existência. Eu pensava: Será que saber demais é que matou os meus sonhos?
Para sair desse emaranhado de sentimentos contraditórios e negativos, amparada pela psicóloga, eu passei a substituir os pensamentos e a fazer afirmações tipo:
_ Eu NÃO posso beber.
_ Vou perder todas as pessoas que me amam se beber novamente.
_ Tenho que encontrar forças dentro de mim para viver sóbria.
_ A bebida é mais forte que eu. Ela é um Mike Tyson em minha vida: me nocauteia no primeiro round!
_ Vou voltar a sonhar, encontrar novos objetivos, algo que me dê prazer, que me faça reaver a alegria e o sentido de viver.
_ Eu NÃO sou fraca! Estou renascendo! Vou conseguir! NÃO preciso da bebida para viver! Vou reagir e enfrentar os problemas de "cara limpa".
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"Que o medo da solidão se afaste e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável" (Osvaldo Montenegro).
"Lembre-se que sua mente é uma mente forte, é ela que vai fazer você chegar aonde você deseja" (Benjamin F.de Oliveira).