Os incomodados que se mudem

Você já deve ter ouvido essa frase mesquinha da boca de alguém, que pensa pequeno? “Os incomodados que se mudem”. Pois bem, por esses dias, em uma carta/artigo, um Paulistano radicado em São Borja, reclamava muito deste jeito bairrista de ser do Gaúcho, principalmente no quesito churrasco, pelo menos.

Essa carta foi publicada na Zero Hora de 18/09/09:

O churrasco e os gaúchos

Sou leitor assíduo deste jornal, e conheço os problemas deste Estado a ponto de desafiar qualquer Gaudério a debatê-los.

Estou morando aqui porque sou funcionário público federal e, hoje, meu objetivo é ser transferido. Acredito que vou conseguir, pois não há pena perpétua no Brasil. Lendo Zero Hora no dia 9 de setembro, deparei com mais uma gracinha: o churrasco do Lula deu errado e com certeza deve ser “churrasco de paulista”. Tenho uma triste notícia para os gaúchos: vocês são muito, mas muito menos mesmo do que pensam ser.

O churrasco gaúcho é uma ficção. Digo porque moro aqui, e desafio qualquer um a ir a uma churrascaria de qualquer cidade do interior do Estado e comer um bom churrasco. Vai comer carne de segunda e dura. O maior estelionato que já vi chama-se churrasco gaúcho. Após conhecer este Estado, os paulistas voltam para São Paulo falando que aqui é Primeiro Mundo. Claro, foram para a Serra em férias. Assim é fácil ser Primeiro Mundo.

Convido-os a irem a uma churrascaria paulista, comerão carne de primeira e macia, um churrasco incomparável. Mas, devo adverti-los, os paulistas não se valorizam e dão nomes que propagam este estelionato, pois as churrascarias chamam-se: O Gaúcho, Potência do Sul, Vento Aragano, Porteira dos Pampas, Estrela dos Pampas, Fogo de Chão, Carne Gaudéria entre outras.

Vocês têm algumas pretensões: ser o maior Estado do país, e alguns querem separar-se do Brasil. Advirto: para ser o maior Estado do país terão que superar a cidade de São Paulo, algo que ainda é um sonho, e depois ainda tem São Paulo Estado. Desistam! E, separar-se do Brasil, é melhor carregar o Paraná junto, porque senão passarão fome.

http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2657489.xml&template=3916.dwt&edition=13143&section=70

Não precisa dizer que o jornal foi bombardeado por milhares de cartas de nativos dos pampas, mandando o Paulistano ir embora do estado, já que reclamava demais o lugar em que vive e mais outros pouco educadas. Mas se sempre que alguém mostrar insatisfação com as coisas erradas que nos rodeiam, o Brasil como um todo viraria um deserto. Muita gente mora e vive em São Paulo, mas reclama da poluição, se em vez de quem reclama suportar ou tentar mudar o ar da Capital Paulista fosse embora, imagina o que aconteceria?

Quanto ao churrasco é uma questão tradicional. Não gosto muito de carnes de primeira no espeto, prefiro uma costela, tem gente que prefere picanha, e outros cortes mais nobres, mas a tradição pede uma costela. De sobremesa pode ser um cupim. Ainda se fala no hino, “...que sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra...” Mas que modelo? De um povo que vive como se na época dos Farrapos? De um povo que se suicidou na revolução de 1893 nas degolas? De um povo que se é Maragato ou Chimango? De um povo que ou se é Gremista ou Colorado?

Até quando vamos abortar boas idéias de desenvolvimento por ser do outro lado? Vamos assimilar as críticas e mudar as coisas erradas, e não arrancar o facão. Degolar nossos críticos não melhora nossos erros.

J B Ziegler
Enviado por J B Ziegler em 23/09/2009
Código do texto: T1826734
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