ARISTEU, O PÉ DE CANA
Aristeu Macaco, bebedor inveterado, pinguço-mór lá da minha terra, o Cedrão querido, vivia o seu cotidiano miserável acompanhado de um vira-latas negro, o Tição, cachorrinho sarnento.
Carregava sempre uma garrafa de cachaça escondida sob os trapos do paletó, emborcando seus goles a todo instante sem a menor cerimônia, em qualquer lugar:- à porta da fábrica, defronte à Igreja (apesar da rabugice do Padre Chaves), na pracinha diante do cinema, no coreto e no campo de futebol.
Quando o casco secava, “Teteu” costumava brandir a garrafa vazia, cambaleando e rosnando:-
“- Trabaiadores do Brasil! ...Vão pra puta que os pariu! ...”
Gostava, desde menino, de velório e não perdia nenhum sepultamento, fosse gente rica, gente pobre, conhecida sua ou não.
Simplesmente ele chegava, adentrava o recinto, fitava o defunto, serio, de pé ao lado do caixão, resmungava um Pai Nosso às vezes incompreensível, pousava a mão suja na testa do morto e a seguir se retirava da sala, rosto encharcado em pranto convulso.
Acompanhava o enterro, fazia o coro das orações do padre à beira do túmulo, jogava também o seu punhado de terra no caixão e voltava contrito para o “Breiada’s Drink”, a fim de beber o falecido.
Certa ocasião morreu um magnata do lugarejo, o Dr. Pedreiras, homem sistemático, metódico, caseiro e de poucos amigos.
Aristeu Macaco, bêbado que nem gambá, se apresentou e tentou entrar na residência para chorar o defunto, mas foi barrado na soleira da porta por um dos netos do velho, o Zé Otávio, jovem conhecido por sua agressividade e truculência. “Teteu” insistiu em penetrar na casa, mas foi afastado quase aos sopapos pelo rapaz.
Daí a pouco, saiu o cortejo em direção ao cemitério. “Teteu”, espreitando à distância, veio apressado e tentou segurar numa das alças do caixão.
Foi empurrado por um filho do morto, tentou a alça da frente, levou uma canelada do gordo Honório, sobrinho do Dr. Pedreiras, tentou de novo e foi rejeitado por outro membro da família. A rejeição era grande.
Aristeu Macaco desistiu da louca empreitada e, a contragosto, deixou-se ficar parado, bem no meio da rua, o cachorrinho Tição ao seu lado, observando o cortejo se afastar lentamente.
Quando a turma principiou a subida do morro que levava direto ao cemitério, “Teteu” berrou de onde estava:-
“- Heeeiii, ocês aí ! ...”
A marcha fúnebre foi interrompida, o povo parou, os rostos de todos se voltaram para Aristeu Macaco que, cambaleante, vibrando a garrafa de pinga vazia na mão esquerda e gesticulando com um “o” obsceno, na junção do polegar e o indicador da mão direita, vociferou:-
“- Enfia o defunto no cú ! ...”
-o-o-o-o-o-