103 - PROFESSOR DÃO...

103 – PROFESSOR DÃO...

O irmão do ZE PICOLÉ.

Teria que se decidir: ou levava a vida à sério ou a levava na flauta como queria o Zezé, seu irmão. A própria índole o empurrava para um lado... Já um pouquinho do senso de oportunidade o empurraria para outro. Mas era uma decisão deveras difícil, aliás, ninguém nunca lhe garantira que a vida seria de outra forma. Ou agarraria (de vez) a oportunidade que se lhe oferecia o Padrinho ou se danaria para o resto de sua vida.

Só que a vida não é como uma partida daquelas que ele jogava tão bem na mesa de sinuca lá do Bar do Pedro Madeira na Praça da Bandeira “Ponto de Briga”, hoje Praça Acrísio ou no Bar do Necato. As escolhas e decisões mudariam para sempre o curso e o rumo da sua vida.

Por diversas vezes o cavalo esteve selado à sua porta; montar ou não seria a oportunidade da sua vida. Algumas vezes ele fez o politicamente correto outras deixou passar. Mas assim é este incerto destino...

Boa parte da sua juventude foi tutelada pelo seu padrinho o Padre José Lopes dos Santos. Este os conduzia e determinava tarefas a serem realizadas em nome da paróquia e tinha uma preocupação em não deixá-los, tanto ao Dão quanto o Zezé, desocupados, pois sabia perfeitamente que se lhes desse corda e trela eles dariam nó em pingo d’água. O maestro para as coisas erradas era o Ze, o Dão era meio que induzido a fazer coisas por pura influência do irmão.

Quando se decidiram pelo curso ginasial que lhes foi oferecido no Colégio Estadual Mestre Zeca Amâncio, hoje “Escola Estadual Mestre Zeca Amâncio” os dois jovens prenunciavam um destino bastante diferente daquele que seus próprios pais trilharam, era a chance de construírem um futuro mais promissor.

O Dão segurou as rédeas e fez seu percurso de forma brilhante. Já o Zezé empurrou a chance pela janela e foi chutando a oportunidade, literalmente, nos campinhos de várzea. Não trocava uma boa pelada por nenhuma aula de matemática ou português. Aulas de latim nem pensar, não dava para rimar nem fazer tabelas com uma partida lá na graminha (campinho que havia lá na beira do córrego que descia do Poço da Água Santa). Além do mais ele achava que se tomasse gosto pela coisa, ia acabar virando padre e vestindo saia, como ele dizia a respeito das batinas. Quando muito vestidos, ele os colocaria tão somente nos carnavais de rua e nos Blocos carnavalesco, aí sim era sua praia. Pela escola não tinha o menor apreço.

O Ze Picolé dizia que quando os dois irmãos foram trabalhar na Companhia, o Dão entrara pela porta da frente já ele entrou pela porta lateral: Questão de escolaridade, mas não tinha nenhum arrependimento na vida, aproveitou como pode sua juventude.

Quando disse das oportunidades perdidas ou não, já que o Dão na Cia. Vale do Rio Doce tinha um bom relacionamento e competência foi trabalhar na área dos laboratórios. O Ze foi para a área da construção civil, inicialmente.

Já na Vale seus conhecimentos de inglês apreendido na escola e particularmente com o Professor Kay lhe davam mais visibilidade que o irmão. O Dão no final da década de cinquenta entrou para a vida política sindical como secretário do Metabase teve uma boa atuação junto com seus companheiros de época, pois, naquele momento os sindicatos tinham um bom poder de negociação e foram muitas as vantagens em termos de salário e outras conquistas advindas da atuação dos sindicalistas das Minas Gerais.

Mesmo assim, o Dão vivia sempre no fio da navalha mesmo sem ser barbeiro de profissão. Sua vida era sempre um ser ou não ser até porque nas aulas de inglês aprendera que: “To be or not to be? That is the question!” Mercê deste aprendizado nada ficara mais fácil, embora não fosse uma tragédia anunciada e nenhum drama como as escolhas de Sofia. Houve momentos que a decisão lhe escapara das mãos por falta de coragem ou por falta de fazer melhor avaliação.

Um dos diretores do sindicato afirmou que surgira uma oportunidade de ouro para o Dão fazer um treinamento previsto por pelo menos seis meses na América do Norte e Inglaterra num convênio oferecido por um organismo internacional (OIT) Organização Internacional do Trabalho e sua indecisão lhe tirou chance de melhorar consideravelmente suas oportunidades dentro da Companhia. “O cavalo passou e você não viu” afirmou José Felipe Adão, naquela época.

Mesmo assim, o Professor Dão Picolé foi um dos melhores professores de inglês nos cursos da EEMZA durante muitos anos. Seus colegas da época estão aí para comprovar.

CLAUDIONOR PINHEIRO
Enviado por CLAUDIONOR PINHEIRO em 23/09/2009
Reeditado em 25/09/2009
Código do texto: T1826217