Fascinação

O show estava prestes a começar. Uma ansiedade tomava conta do meu ser. Uma inquietante curiosidade e ao mesmo tempo um nervosismo enorme que me engoliam até a voz.

As pessoas começavam a transitar de um lado para o outro atentas a cada gesto meu, a cada expressão de meu pintado rosto.

As crianças pareciam querer colar em meu corpo gordo recheado por balões coloridos.

Nunca pensei sentir tamanha emoção como no dia em que me entreguei no palco da vida sendo um palhaço por um dia.

É esfusiantemente atraente e gostoso ver o brilho dos pequeninos observando e participando de minhas gargalhadas estridentes que nem eu mesma sabia de onde vinham, bem como a alegria contagiante dos transeuntes desconhecidos que pareciam parentes próximos de tanta receptividade e colaboração.

Acho mesmo que as pessoas desaprendem a sorrir, dominadas e consumidas pela corrida frenética do dia a dia da vida. A luta pela sobrevivência arranca os sorrisos, os gestos amenizantes e cordiais da vida. Não há tempo para palavras bobas, conversas furtivas, sorrisos e piadinhas, abraços e beijos, nem mesmo abpertos de mão, a não ser que sejam de obrigação por puro profissionalismo.

Mas sendo palhaço por um dia eu constatei que é gratificante fazer brotar nos rostos de ocultos seres que transitaram pelo palco em que eu atuava no momento colkocando sorrisos de alegria em seus cansados rostos, dando-lhes a oportunidade de terem uns minutinhos de distração. Uma força revitalizadora parecia consumir a todos que por ali passavam e deixavam-se quase que obrigatoriamente participar de minha esfuziante folia, que se alternava entre risos, palavras soltas sem intuito algum e muita música e dança que divertia a todos inclusive a mim.

Jamais pensei que era algo tão emocionante ficar de cara pintada, completamente caracterizada como um lindo palhacinho. Alguns ao pé do meu ouvido pediram-me fotos, meio acanhados, timidos , mas seus olhjos denotavam a imensa alegria que já os tinha dominado. A vontade que tinham de estarem em meu lugar sentindo tamanha sensação de prazer e bem estar.

Brinquei e pulei, cantei e encantei e mais que tudo isso fiquei encantada com a minha própria performance. Pois atuei como atriz no palco da vida real, levantando aplausos e gritos da platéia também da minha vida real, que foi atuante e participativa em minha ousada aventura em descobrir como é ser um palhaço por um dia.

Ao final do dia eu estava sem forças físicas, esgotada, mas de alma leve e carregada de satisfação de saber que ser palhaço é algo difícil, mas incrivelmente lindo e gostoso.

Pois nada se compara à sensação de você conseguir de pessoas sisudas, entristecidas, pesadas e perdidas em seus mundos preocupantes,gélidos e doloridos, risos e olhares cheios de brilho.

Adultos pareciam crianças. Se tranfiguravam. Crianças largavam a dureza de serem adultas no seu mundo infantil, voltaram a ser crianças, libertando as suas facetas e estrapolias tão comuns e tão saudáveis. Famílias nunca me pareceram tão unidas e tão cumplices de momentos vivenciados como outrora jamais o tinham feito.

Quero mais vezes ser palhaço por um dia e soltar a minha criança interior para que esta se deleite ao encontrar as milhares que existem ocultas nos transeuntes que passeiam por meus caminhos.

Quero estampar o nosso mundo com sorrisos e mais sorrisos. Pois a serenidade se acomoda numa alma sorridente. A paz faz morada no brilho de um olhar emocionado. A vida se faz vida quando trocamos afetose dividimos momentos únicos de felicidade.