A ESTAÇÃO DAS FORTES EMOÇÕES

"Ainda haverá primavera do lado de fora da nossa janela?" Frase que busquei na criação da Reverenda Elena Alves Silva. A pergunta é salutar e bem própria para reflexão, haja vista que estamos iniciando mais uma estação do ano - que para mim - é a mais lida e a mais propícia para produzir emoções, até porque estamos em época de ipês floridos, de flores diversas desabrochando nos jardins, nos campos, nas matas e nos cerrados. A estação aguça nossos sentidos, pois sentimos o odor dos perfumes, ao mesmo tempo em que nos embriagamos com o sentido ótico ao vermos tão lidas cores que se expõem na natureza, atraindo os pássaros, os beija-flores, as abelhas e todo tipo de parceiros da beleza que acompanham nossos corações em ritmo acelerado.

Assim disse a poetisa Vanda Dias da Cruz, na sua crônica "Primavera", no site www.lojinhadasmensagens.com.br: "É primavera! A natureza cobriu de cores, todos os cantos e, perfumou o ar com diversos odores que exalam do desabrochar das flores. Nosso coração se enche de alegria, ao ver o sentir o que de belo à vida nos oferece". Existe maior razão para despertarmos do nosso cotidiano cheio de subterfúgios que nos afastam dessa visão tão eloquente produzida pela natureza? Despertar do meio algoz que nos torna reféns do formalismo e da burocracia diária é uma coisa tão simples, mas muitas vezes fica estarrecido pela nossa pressa e pelo nosso conturbado mundo da competição. Assim, muitas vezes não nos damos conta de que temos de parar numa praça, num bosque, num jardim qualquer, para ver as coisas lindas que nos cercam e que não são perceptíveis ante nossa cegueira do dia-a-dia.

A primavera é propícia para alimentar nosso peito de sentimentos que às vezes estão amortecidos, mas que só esperam que nosso cérebro saia do ostracismo que vem marcado pela responsabilidade da sobrevivência, para refrescarmos nossa memória e visualizarmos (com a mente), como foi bons aqueles tempo de Faculdade, quando no intervalo de recreio nos permitíamos dar passeios pelo campus da universidade e ali sentir o cheiro da daquela "dama da noite" que exalava seu perfume como querendo dizer a todos nós - acadêmicos - que a vida que estávamos planejando para o futuro poderia ser amortizada quanto à sandice profissional, pelo simples sentir do seu perfume que nos dizia que a vida - como no sono - sempre se renova, bastando que nos entreguemos aos seus momentos de puro êxtase, ao sorver o cheiro de uma flor.

Hermes Peixoto, um bom escritor, que posta suas crônicas no site www. cruzdasalmeas.com.br, faz uma remição ao inigualável Casemiro de Abreu, através de poesia escrita em julho-inverno de 1958, na qual o poeta diz: "A primavera é a estação dos risos/ Deus fita o mundo com celeste afago/ tremem as folhas e palpita o lago/ da brisa louca de amorosos frisos. A calhandra canta e a juriti arrulha/ o mar é calmo porque o céu é lindo". Depois de citar a poesia do famoso poeta, diz o escrito a que me refiro: "Na sua primavera, mestre Casemiro, as borboletas voam mais leves, as nuvens guiam as tormentas e até a flor que fenece, renasce logo o sopro da esperança tênue. São flores murchas; - o jardim fenece, / Mas bafejado, erguerá de novo/ bem como o galho do gentil renovo/ durante a noite, quando o orvalho desce". Observa-se, assim, por essa troca de inspiração que escritor e poeta cotejam a alegria de ver o ambiente da primavera como algo poético que encanta e enternece o espírito, pois a natureza oferece uma luz a mais na sua grandiosidade como meio ambiente. E nós, o que vamos fazer para não deixarmos o jardim fenecer?

Essa é a grande questão que nos aflige hoje e que o poeta Casemiro de Abreu não expôs em versos porque não viu. Nós estamos num contraste, mas é algo palpável e que se mostra fronteiriço como numa encruzilhada. Ou seja, ainda vemos parte de nossa natureza produzindo primavera e nos dando uma estação completa. Mas até quando isso irá perdurar? Certamente que tudo dependerá de nosso esforço em colocarmos o pé no freio e reduzirmos nossa gana pelo progresso, ou então começar a pensar no fenômeno "causas e efeitos" de forma que venhamos a compreender - de forma definitiva - que todos os acontecimentos que estão de mostrando a fúria da natureza, são apenas efeitos causados por nós mesmos quando não cuidamos do nosso Planeta.

Então, pensando nessa estação tão linda e tão própria para reflexão, vamos unir nossas forças não só para apreciar as coisas belas que ela oferece, como também para passarmos a zelar por sua ordem natural, para não agredi-la ainda mais do que já é agredida. Qualquer ajuda por menor que seja irá ajudar nessa vanguarda. Até no recolher do lixo que produzimos à beira de um rio ajudará no destino final dessa orla verde. Não é de se exigir que todos comessem a investir na recuperação de mananciais porque essas providências estão agregadas àqueles que possuem imóveis. Entretanto, nossa contribuição pode começar na cidade tratando o nosso lixo com urbanidade e seguindo as regras e as orientações das entidades protetoras do meio ambiente.

Assim agindo, estaremos contribuindo para que nossos filhos e nossos netos também possam entrar nesta estação e embelezar seus olhos e perfumar suas narinas sentido o odor das flores.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 22/09/2009
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