Humildade e aniversário
Convite de aniversário
Estavamos dentro do carro quando ele me perguntou se eu gostava de aniversario. Respondi que sim! Sempre gostei de celebrar o meu aniversário.
Sendo de família bastante humilde, e o terceiro filho duma lista de sete irmãos, o “money” nunca foi impecilho para que qualquer um de nós, não pudesse ser presenteado com uma festa. Festa de aniversário, decoradas com bichinhos retorcidos feito de balões, cenários pintados em placas de isopor, mesas com balinhas de coco, bolo feito de chocolate e o glacê, tendo em cima um personagem dos quadrinhos infantis, sei dizer que, nunca passou uma vez sequer uma quadra de distância perto da minha casa. Mas uma assadeira de bolo era levada ao fogão e depois de assado era servido com “ki-suco” de morango ou de laranja (lembram-se dele!) e o parabéns era cantado pelos irmãos. Por motivo financeiro não havia a tradicional velinha alusiva á idade para ser soprada ao final da música.
E assim no teatro da vida a minha infância aconteceu sem o luxo da festa de aniversário. Daquelas que os outros pais traziam os filhos e cada um deles trazia uma lembrança; onde era servido muitas guloseimas para os convidados, entoado o parabéns, servido o bolo, que de tão bonito dava “inté” dó de cortar, e os pratinhos com os bocados era enfeitado com balas vestidas de rosas e azuis, feitas de coco e que quando colocadas na boca, se desmanchavam na língua, não sendo preciso mastigar. Huuum que delícia!!!
Nas dificuldades rotineiras duma família pobre, o que entrava estava sabiamente reservado para as necessidades mais elementares do ser humano, que é a de se alimentar para continuar vivendo.
É necessário porém registrar que o pouco dinheiro sempre foi compensado com doses fartas de amor e carinho; festas de aniversário com formas de bolo assada no forno do fogão e ki-suco de groselha; e também as (in)devidas (?) “chineladas”, porque quando criança por mais que me esforçasse tentando convencer a minha mãe, de que só me faltavam asas, ela retrucava que o “tinhoso” era um anjo que brigou com Deus.
Quando veio a adolescência ao meu encontro a vida se encarregou de desenhar o meu destino longe da minha cidade natal!
Em outras paragens, moço ainda mas nos caminhos de me tornar homem feito, com a penugem da barba já teimando aparecer ; e a voz, (Ah a voz!!!), deixando um timbre agudo-esganiçado para se tornar um grave-desajeitado, que confesso, por mais que me esforçasse ainda não sabia usar direito, por isso
não raras vezes uma frase começada com o tom grave de um barítono, repentinamente descambada para um agudo de meso-soprano, causando um ataque de risos nos meus companheiros ouvintes.
Nestes anos, os aniversários era comemorado com três ou quatro amigos ao redor da mesa de um bar, onde o festejado invariavelmente era obrigado a pagar a conta da noitada.
Vencido o tempo juvenis de internato, os anos de amizade e folguedos etílicos da universidade, chegou a vida de verdade do trabalho. E com o valor obtido com o suor da minha labuta, o advento natural do matrimônio e os frutos queridos nascidos deste contrato, continuei a celebrar o meu aniversário e o da minha família, não de forma suntuosa, mas da maneira como aprendi com a minha mãe, humilde e cercado de pessoas que eu gosto!
Por isso nessas datas gostamos sempre de receber os amigos e com eles desfrutar de um momento único que é o de estar mais um ano por aqui neste misterioso planeta. Tantos foram os que ainda mais jovens do que eu e ficaram pelo caminho; tantos são os que ainda mais jovens que eu e que por um motivo outro não gozam de boa saúde; tantos são os que estão longe dos seus por conta de rancores e desavenças familiares; enfim, são muitos os que não podem, não querem ou não conseguem celebrar o seu aniversário! Juntos, eu, a Lucimar, Ináh e Ayrton Vinícius, você e sua família, por uma dádiva de Deus, nós podemos!