MOÇA BONITA NÃO PAGA

O tradicional comércio de Aracaju fica no Calçadão da João Pessoa e ruas próximas, principalmente, estendendo-se na direção do Mercado Municipal Thales Ferraz. Em geral os estabelecimentos mais populares têm, plantados em suas calçadas, locutores de porta de loja que fazem, digamos assim, o marketing.

Em suas falas, os comunicadores apregoam os produtos e se dirigem aos transeuntes nas calçadas, cumprimentando-os como se velhos amigos fossem. E tem deles que até cantam e dançam, além de se exibirem para as meninas. Dizem coisas assim: ENTREM, ENTREM! LIQUIDAÇÃO, TUDO PELA METADE DO PREÇO! COMPRE UM E LEVE CINCO; SÃO EXATAMENTE 16 HORAS NA CAPITAL SERGIPANA; A MAIOR PROMOÇÃO DO INVERNO, DO VERÃO, DA PRIMAVERA (outono aqui não se conhece).

Ao contrário dos outros sergipanos, quanto mais os rapazes gritam nos microfones, menos eu quero entrar na loja. Passa a vontade de consumir. Imagine uma mulher sem apetite para o consumo, coisa rara. Outras lojas colocam músicas (chamam de música) dessas terríveis que a gente tem a impressão de haver por perto um edifício em construção com o bate-estaca funcionando. Procuro o gerente para reclamar e acrescento que iria fazer compras, mas desisti pela “música”. Que nunca mais voltarei ali e por ouvir aquilo eles têm dores de cabeça, etc. e etc. Ele diz lamentar, mas só eu faço a reclamação e a maioria faz questão do som. Do inferno.

Saio pensando nos defeitos da democracia e das leis também. Enfim, melhor esquecer. As leis são feitas pelos homens e, portanto, refletem o pensamento da maioria. O gosto da maioria. "VIVE LA DIFÉRENCE!"

Mas o que quero mesmo contar é um fato curioso de hoje à tarde. Venho passando pela calçada de uma loja onde o locutor enchia a rua com aqueles chavões. E saiu com este: “Moça bonita não paga, mas também não leva.” Foi se voltando na minha direção e, me olhando, disse: “Mas para esta eu gostaria de pagar”. Como não sou de ouvir e não interagir, parei, olhei para ele e perguntei onde estaria a moça bonita. Bem danadinho, respondeu, falando no microfone: “Aqui na minha frente.” Tamanha presença de espírito me quebrou. Meu filho, você está brincando, nem sou jovem e nem bonita. Este elogio é para que eu compre na loja? Afastou o microfone e sussurrou: “Se esta loja fosse minha, eu daria pra você”. Tá, obrigada, então tchau. E lá ficou ele repetindo: “Moça bonita não paga, mas também não leva!