Afinidade & Cia.

Por estes dias participei de um dos muitos encontros da velha e boa turma de amigos que vem, unida e solidária, desde os tempos de universidade, já lá se vão trinta anos.

E desde então andei pensando muito nesse assunto -- o que nos leva a fazer amigos e mantê-los, ainda que nem sempre juntos, ainda que nem sempre por perto, mas ainda assim por tanto tempo?

Identidade de valores e idéias é importante, sem dúvida. Mas não o bastante.

Pois tenho estes amigos muito queridos e próximos, de looonga data, mas de uma variedade extensa -- com ideais que vão do liberal ao conservador, com tonalidades de pele que vão do negro ao branco, de origens e culturas que vão de norte a sul e com temperamentos que vão do pacato ao esfuziante, do tímido e reservado ao muito sociável e expansivo.

O que será que nos mantém unidos e fiéis por tantas décadas?

Analisando com cuidado, percebo que o traço de união dessa turma tão variada é o bom humor. E isso é afinidade.

Cada um a seu modo e estilo, todos são muito bem humorados. É sempre um imenso prazer estar entre eles, porque é garantia de muitos risos e porres homéricos de endorfinas. E isso nos predispõe à cordialidade, à solidariedade, à simpatia e à sua irmã mais velha, a empatia. Por isso estamos sempre incorporando novos amigos ao grupo. Até porque a união e a camaradagem nos confere uma certa facilidade para tanto.

Não que estejamos sempre alegres e felizes, não que não tenhamos as nossas diferenças e ocasionais desentendimentos, não que passemos a mão na cabeça do que deu uma pisada na bola. No entanto, aprendemos a superar tudo isso com diálogos francos e sinceros, mas sempre com muito respeito e carinho. E o que garante o carinho e o respeito é justamente a afinidade.

E afinidade não se compra, não se força, não se ganha no grito. Ela nasce da ressonância dos valores que ocorre de um para o outro, como a voz que canta uma nota e faz ressoar uma corda num instrumento. A isso chamamos de harmonia.

Dizem que família a gente não escolhe, mas amigos sim.

Eu digo que não escolhemos propriamente os amigos -- pelo menos os amigos verdadeiros -- e sim somos atraídos uns pelos outros, irresistivelmente, irremediavelmente, por força da afinidade. Então os laços se formam e vão se estreitando e se firmando ao longo do tempo e da convivência.

E esses são daquele tipo que nem mesmo a morte desfaz. Muito menos a vida. Porque dádivas assim são perenes.

E eu sou muito grata por isso.

Maria Iaci
Enviado por Maria Iaci em 21/09/2009
Reeditado em 28/03/2010
Código do texto: T1823772
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