Namorei a Paulista
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Estou convencido de que São Paulo quer me provar que é, de fato, a terra da garoa. Um mês antes, fez jus ao título ao me privar do sol durante toda uma semana. Meu retorno à grande metrópole da América do Sul foi num domingo, frio e úmido, de céu em tons de cinza, de novo.
Estava na agenda um passeio no Parque do Ibirapuera, mas a garoa ininterrupta, que se esforçava para molhar, levou-me à Avenida Paulista, a primeira pavimentada de São Paulo capital. A mais famosa avenida do Brasil, que concentra o poder econômico e onde são fechados os grandes negócios do País, é sempre uma boa opção de passeio, faça chuva ou faça sol.
Desta vez, fui de metrô – sossegado, sem as “sardinhas” dos dias de semana. Peguei o trem na estação São Joaquim e segui até a estação Paraíso. Tomei outra linha, sentido Consolação, no outro extremo da Avenida Paulista para, de lá, retornar a pé. Talvez daí aquele divertido – e para mim oportuno – ditado: “a Paulista é que nem casamento, começa no paraíso e termina na consolação”.
Namorei a Paulista durante toda aquela tarde de domingo, sem pressa. Comecei devagar. De repente, notava que estava num ritmo mais acelerado e, para aproveitar mais bem o momento, “pisava no freio”. A Paulista estava molhadinha – por causa da garoa, claro –, mas isso jamais espantaria um paranaense curioso, que gosta de ver gente. Num dos lugares mais cosmopolitas do País, estava contente por gozar de boa saúde e poder cruzar, a pé, os quase três quilômetros da avenida.
No primeiro shopping que visitei, vi um grupo de alemães – austríacos talvez, porque falavam na língua de Goethe – bebendo chope e rindo, com a discrição inerente aos europeus. Da conversa alheia, entendi que estavam impressionados com o tamanho de São Paulo. “Wunderbar” (maravilhoso) foi apenas um dos adjetivos empregados para classificar a capital. O nerd entre eles, o único com máquina fotográfica em mãos, sugeriu uma foto só com as meninas do grupo. Aliás, belas jovens germânicas, loiras e mais altas que nossa média nacional... viciantes! Remeteram minha mente a lembranças do tempo em que morei na Alemanha.
Parei em dois shoppings, para beber o merecido café expresso, sem açúcar. O segundo “pit stop”, para repor a cafeína, foi no Pátio Paulista, onde me deparei com um grupo de turistas japoneses. Estou certo de que não eram coreanos nem chineses, porque mais de um, a maioria para ser sincero, volta e meia sacava do bolso (ou do pescoço) o celular, sempre do tipo “lançado ontem”, para tirar fotos. Conversavam menos que os alemães, e bebiam refrigerante. Riam sem mostrar os dentes e não faço a menor ideia do que falavam. Fiquei curioso para saber o que dizia a nipônica com cabelos com mechas cor-de-rosa – linda de uma forma instigante.
Boa parte do tempo, porém, passei a céu aberto e, por pelo menos meia hora, fiquei no pátio do Museu de Arte de São Paulo (Masp), observando tamanha diversidade, num momento antropológico de inspiração. Vi gente de várias cores, Estados, nações, credos. Alguns de gravata, outros despreocupados em combinar a calça laranja com o agasalho azul. Moças de cabelos para todos os gostos: roxo, compridos, loiros, curtos, lisos, cacheados, soltos ou amarrados. Rapazes fazendo acrobacias com ioiôs, a fim de chamar a atenção daquelas mesmas moças.
São Paulo me encanta por essa riqueza cultural, de costumes mil. Em Sampa, mais do que em qualquer outra cidade do Brasil, dá para ser você mesmo, por mais estranho que você possa parecer. Não importa se você tem carro ou vai de metrô, se tem emprego fixo ou se é autônomo, se veste terno ou se arrisca um saiote (kilt) como se estivesse na Escócia, se é heterossexual ou se é gay, se fuma maconha ou se é contra a liberalização, se fala como paulistano nato ou se tem sotaque. Do jeito que for, numa cidade nada provinciana, sempre vai haver alguém para curtir teu jeito de ser.
Nessa “salada” de tudo e de todos, percebo na Avenida Paulista um “tempero” único. Na via que é a cara de São Paulo, sinto-me em casa e nem noto o tempo passar. Molhadinha ou não, gosto de pegar a Paulista sem pressa, para curtir cada passo. O relógio... só olhei quando alguém me perguntou as horas.