Desabafo
Amigo... Uma bela palavra, de um significado repleto de paz, confiança, serenidade, proteção, amor, respeito, e tantas outras que nos acalma e conforta, pois Amigo é um constante porto seguro, presente ou distante, pelo simples fato de existir.
Eu tive um Amigo. Eu tive um grande Amigo. Eu tive o maior Amigo do mundo, ou se desejarem, o melhor Amigo que uma pessoa pode ter.
Tive, porque não se encontra mais em nosso meio. Como diz meu tão querido mestre, que a cada dia me “ensina” mais, ficou encantado... (ensina entre aspas para que em uma próxima oportunidade possamos conversar sobre o ato de ensinar).
- Sabe, querido mestre! Quando me reporto a esse Amigo, eu realmente consigo imaginar a expressão utilizada pelo senhor sobre o encantamento, à minha maneira, claro, mas consigo compreender como foi seu desenlace/encantamento.
Um homem diferenciado: Alto, loiro, olhos azuis, corpo atlético, que não seguiu a carreira de modelo porque não quis. Mas, além disso, uma pessoa doce, fraternal, presente mesmo quando distante, afetuoso, honesto, de grande sensibilidade, enfim, um verdadeiro homem, ou ainda, um verdadeiro Cavalheiro.
Enquanto viveu, foi grande, iluminado e com um coração maior que o mundo. Menino levado, conservou seu espírito infantil até a sua morte, sempre com um sorriso alegre e contagiante, mesmo nos piores momentos. Brincava com tudo, até mesmo com a seriedade, pois tudo pra ele era motivo de prazer e alegria, com a dedicação e a determinação de criança quando brinca.
Sim, um Amigo que parece irreal, ou que parece superdimensionado (um anjo? Quem sabe?), mas que há aproximadamente 18 anos magoei-o e à sua severa e muito correta Mãe (um pouco minha também), excessivamente séria, mas que por detrás daquela carapaça, havia uma doce, simples e amorosa mulher, que teve que lutar muito para criar e bem seus dois filhos, e alguns outros que “adotou” pelo caminho.
Por circunstâncias que aqui não cabem mencionar, eles, que seriam meus padrinhos de casamento, se algum dia eu me casasse, quando me casei, nem um simples convite receberam. Receberam um convite que era conjunto com outras pessoas, sem a devida distinção e honraria que mereciam. ERREI... Sei disso e nunca tive coragem de pedir perdão, talvez por vergonha, e dois anos depois ele ficou encantado, desencarnou, mudou de plano, faleceu.
Quando soube, já haviam se passado 5 dias de sua morte, e não me encontrava na cidade. Chorei. Chorei copiosamente por sua morte e por não ter pedido perdão a ele pela “traição”, pela indignidade com que os tratei, ou seja, com que tratei o meu melhor e maior Amigo de todos os tempos e sua (nossa?) mãe, Amigo que até hoje ocupa local privilegiado em meu coração, pois se nada é insubstituível, ele é a exceção da regra. Ninguém conseguiu até hoje ocupar o vazio deixado por ele e, não fosse a minha convicção de que ele está entre nós e já me perdoou, faltando somente eu criar coragem de pedir perdão à sua mãe eu diria que sua falta é imensa e a saudade doída, literalmente. [Eu a tratei muito mal quando voltei de viagem, como se ela fosse "culpada". Tratei-a de uma forma também indigna para alguém que foi e continua sendo especial em minha vida, um grande exemplo, mesmo sem nos falarmos há, aproximadamente, 16 anos].
Em janeiro desse ano completamos mais um ano sem sua presença física entre nós, e a distância em que me encontro da cidade que vivemos momentos maravilhosos, de uma verdadeira, sincera e pura amizade, e do convívio de sua (nossa?) mãe, veio-me como que um tsunami, uma saudade de alguém que hoje sei que precisava ir... Não podia mais ficar... Precisava ajudar mais do que ajudava e somente estando do lado de lá poderia fazer isso... Alguém que não pertence a esse mundo, que é mais útil lá, e certamente se aqui estivesse, estaria sofrendo em ver o rumo que nosso mundo está tomando, conduzido por pessoas e veículos de comunicação de massa que valorizam o TER de maneira tão forte, que sua indignação poderia fazer com que perdesse o espírito infantil, e para que isso não acontecesse, ele foi levado para o plano superior...
Sua lembrança me remete ao Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, não somente por sua semelhança a essa doce criança, mas a uma frase marcante em toda estória e que resume a nossa vida: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.” E com essa lembrança despeço-me de todos que tiveram paciência de chegar até aqui, na leitura generosa de um desabafo, daquele que nunca se perdoou por seu enorme erro.