UM GATO NO OMBRO
No sábado, dia 13 de setembro de 2009, eu e Ana havíamos combinado ir às compras nos outlets localizados na Av. Córdoba, um imenso espaço comercial destinado ao irresistível prazer das compras e onde os portenhos se misturam alvoroçados aos não menos agitados turistas do mundo todo. Diariamente o local é transformado numa verdadeira loucura coletiva, com pessoas indo e vindo, entrando e saindo das lojas carregando pacotes e falando em diversos idiomas, mas no sábado a avenida se torna palco de uma verdadeira festa, e tudo isso em meio aos carros disputando espaço com os pedestres que atravessam de um lado para o outro sem parar.
Os principais atores da cena nesse teatro real são as grandes grifes internacionais e seus preços bem abaixo dos normalmente praticados nas butiques caras dos grandes centros, e melhor ainda por serem praticados em pesos argentinos, moeda muito desvalorizada em relação ao nosso real brasileiro. É possível, então, imaginar a quantidade de tupiniquins entre a multidão que lá acorre para adquirir produtos de marca pagando bem menos do que pagaríamos normalmente.
Em meio a tanta diversidade de seres humanos de várias nacionalidades, já é fácil imaginar, podemos entrever a qualquer momento fatos pitorescos, gente diferente e estranha ou algo deveras sui gêneris que nos faz virar a cabeça, sorrir ou mesmo dar uma gostosa gargalhada. Como o homem de meia idade, careca, apressado, que vimos carregando no ombro esquerdo um imenso e gordo gato angorá preso numa coleira de prata. Ele passou por nós quando saíamos da Yves saint Laurent e nos dirigíamos para o outlet da Levi's, obviamente chamando nossa atenção e surpreendendo todos os circunstantes em derredor. O gato, talvez incomodado pelo pequeno espaço que lhe cabia para movimentar-se, virava de um lado para o outro, punha as patas dianteiras na cabeça do sujeito, no seu rosto, no pescoço e emitia sutis miados como a dizer de sua angústia diante daquela situação constrangedora. Mas o cara não estava nem aí, tranquilão seguindo seu caminho fumando um cigarrito venenoso, continuou em frente como se fosse a coisa mais normal do mundo andar com um gato no ombro à guisa de um papagaio ou um periquito ensinados. Quando ele já se distanciava a quase não poder ser alcançado pela máquina fotográfica, lembrei-me de gravar aquele instante em foto e, imediatamente, saquei do equipamento e saí quase a correr para chegar perto dele, deixando Ana estatelada na calçada, sozinha a esperar-me. Carregando o gato no ombro, ele andava tão rápido que me foi impossível aproximar-me dele o suficiente para uma foto decente. A duras penas - o cara parecia correr andando - consegui fotografá-lo de costas. E não podia deixar de registrar em crônica esse caso picante que nos despertou muitas risadas quando chegamos ao hotel ao anoitecer, cansados de tanto andar e levar para lá e para cá um sem número de pacotes resultantes do passeio pelos outlets da Av. Córdoba.