Mistérios e dogmas
Houve um período de minha vida em que cheguei a um grande impasse com relação às dúvidas levantadas sobre os acontecimentos aos quais estamos sujeitos, que nos pegam no contrapé de maneira inesperada, a ponto até de eu chegar a atingir o estágio terminal de ignorância e burrice, que podemos chamar de “ateulogia”, baseada na negação sumária da existência de Deus, e ainda defensável por uma teoria lógica, segundo meus conceitos. O que me levou a essa situação de alienação eclesiástica foi, estranhamente, nada mais do que um fator positivo do meu caráter, que sempre me acompanhou pelas andanças por aí, ou seja, o forte espírito de busca, que só se satisfaz com informações concretas, lógicas e bem concatenadas entre si, e que não envolvam dogmas ou mistérios inexplicáveis e incongruentes. Nunca aceitei meio-verdades, ainda mais que sempre procurei ir à fonte de informações ou ao “chefe” (padre, pastor, bispo, ministro, reverendo etc.) todas as vezes em que fui atrás de esclarecimentos sobre nossa vida, religiosidade, missão, morte etc.; assim, pelo simples fato de não haver encontrado respostas convincentes e de deparar com vacilações ou com “enrolações” ridículas, e principalmente quando o sacerdote acabava empacando no campo do mistério e dos dogmas, fui chegando à conclusão de que religião só servia para os obtusos ou beócios; a partir daí, até eu me tornar “ateu praticante”, foi um pequeno pulo.
Somente quando circunstâncias sofredoras e inseguras do destino me empurraram para um novo caminho, de características esclarecedoras, sem hermetismo ou dogmatismo, é que tive a grande oportunidade de encontrar aquilo que eu buscara tão intensamente. Acredito que foi graças a essa minha ânsia, que se manteve latente durante todo o tempo, é que acabei sendo conduzido ao entendimento dos porquês da vida e da morte, do bem e do mal, das graças e desgraças, e muito mais; assim vim a me convencer e a me engajar no caminho que me apresentou a Verdade, de verdade. Os meus encontros contra a parede, que inicialmente me conduziram ao “limbo”, foram a mola propulsora para eu bater de frente com a saída de uma nova vida, pautada em base segura de conhecimentos, de fé e de experiências mil, cada vez mais reforçando minha espiritualidade; isto já quase há quarenta anos felizes, de muita dedicação, da busca incansável de aprendizado e do aproveitamento máximo da disponibilidade temporal.
Por tudo isso, consegui obter a consciência plena da existência do Ser Supremo, Criador do Universo, com a certeza de que, através da Sua onisciência, onipresença e onipotência, tudo segue um plano divino, sob Seu comando absoluto, onde nós, os terráqueos, juntamente com os demais seres “galáticos”, estamos em constante evolução, rumo à divinização, ou seja, ao caminho de retorno à unicidade do Altíssimo, sob a égide da sabedoria adquirida por meio de jornadas, tanto sofríveis como proveitosas e produtivas. Quanto tudo isso é gratificante, quanto tudo isso nos engrandece, nos dá segurança e nos enleva – é difícil de descrever; só a vivência concreta pode nos responder e nos provar.
De que adianta a peregrinação de Santiago de Compostela, atravessando-se de leste a oeste a Espanha toda, a pé, ou então sair por aí em romaria, a cavalo ou a pé, ou, pior ainda, subir 200 degraus de uma igreja, de joelhos, para pagar promessas? Será possível que existam pessoas que acreditam nessas louvações, achando que por esse caminho estarão evoluindo espiritualmente, mas que na verdade estão subestimando as divindades, julgando ser possível elas ficarem felizes com essas atitudes totalmente inócuas e servis? O que esses incautos estão fazendo de útil e produtivo para si e seus semelhantes, para merecerem o próprio crescimento? _Deus do Céu, quanta perda de tempo e de energia!
Somente a vivência sábia, respaldada pelo conhecimento da Verdade, com o uso inteligente e útil do tempo, do talento e dos bens materiais à nossa disposição, sempre com o objetivo de expandirmos nosso amor altruísta ao maior número de pessoas que nos cercam, será o caminho para que muitos de nós possamos merecer “um lugar ao Sol” ou um cantinho no Mundo Ideal, isento de mistérios e de dogmas.