De como aprendi a gostar de ler

Uma nação se constrói com homens e livros. Esta, sem dúvidas, é uma das máximas de que mais gosto. Por ignorância ou desleixo mesmo, nunca me preocupei em investigar a autoria da frase. Mas como uma obra ultrapassa o seu autor e levando em consideração a verdade que a frase encerra em si mesma, isso é o de menos.

Não sou de uma família muito dada a leituras, pelo menos as que eu aprecio. Por um lado minha família é composta por pessoas humildes e até certo ponto pouco letradas. Já a outra parte tem quase que em totalidade uma forte vocação jurídica – o que me faz pensar se “advogado” não é outro sobrenome da família. Portanto, para meus familiares, sempre veio primeiro o trabalho e depois – muito, muito depois mesmo – a poesia.

De cara não fui a ovelha negra, demorou um pouco. Minhas primeiras experiências com a leitura foram traumáticas e desestimulantes – era apenas um monte de letrinhas que dançavam a exmo, sem conexão alguma com minha vida. A escola não ajudou muito, ela apenas empurrava uns paradidáticos e sem nos informar como a adição da leitura como hábito ajudaria em nossa formação como pessoas, transformou o que deveria ser prazer em tarefa chata e obrigatória (como foi a escola como um todo). É engraçado escrever sobre isto e relembrar como a leitura entrou em minha vida, foi logo após repetir o ano na oitava série. É que fiquei com medo de tomar uma sova de meu pai e como única maneira de escapar a ela, resolvi refugiar-me em meu quarto (como se papai não pudesse abrir a porta!). Sem nada o que fazer, acabei – e vejam como o mundo dá voltas – tendo em minhas mãos um dos paradidáticos que tanto desprezava: “Aventura na Ilha”, se não me engano era seu nome e passei o dia todo a lê-lo. A sova não veio, mas mesmo que tivesse vindo não faria diferença, pois aquela leitura, influenciada pelo temor, despertou em minha alma algo que ela não conhecia: que ela podia se comunicar com outras almas, sentir o que elas sentiam em um momento inspiracional qualquer de suas existências, tudo isso tendo como canal os livros. Aí os livros já não eram mais os mesmos nem eu a mesma pessoa.

Uma nação se constrói com homens e livros, já disse isto, às vezes só com os homens, infelizmente.

Thomaz Ribeiro
Enviado por Thomaz Ribeiro em 20/09/2009
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