Azar no jogo...
Luiz Fernando Cardoso
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Como é mesmo aquele conhecido ditado popular: "sorte no jogo, azar no amor" ou a ordem correta seria "azar no jogo, sorte no amor"? De qualquer forma, tenho dúvidas sobre o caráter "profético" do ditado, do contrário estaria eu (um mero mortal) namorando a belíssima e talentosa Ana Paula Arósio – ou ao menos já a teria conhecido. Força de expressão à parte, no jogo da vida, tenho lançado dados para tirar sucessivos 1.
Toda má fase existe, entretanto, para ser superada, sob o princípio cristão de que Deus só permite desafios que possam ser vencidos – o apóstolo Pedro (aquele que negou a Jesus três vezes para, após o arrependimento, tornar-ser o líder da igreja cristã) que o diga. Numa escala bem menor, precisava fazer o mesmo e o belo nascer do sol em Maringá, na última quarta-feira de maio, dava a impressão de que isso seria possível. Destarte, estava animado.
Acordei às 6 horas aquele dia, tomei banho quente e gostoso e, por pura falta de fome, saí de casa sem comer. O Sólido, meu lustrado Fusca ano 1975, bicolor, não desapontou e deu partida como se tivesse injeção eletrônica. Parei no primeiro posto para abastecer, tomei aquele café cremoso de máquina, tipo caça-níquel, e rumei em seguida a um dos bairros mais afastados do Centro. Antes das 7 horas, cheguei à pista particular da autoescola para dar algumas voltas numa surrada Honda CG 150cc.
Na preparação derradeira antes do teste, executei o percurso cinco vezes, todas com perfeição. Estava tranquilo e com a ansiedade sob controle, bem o oposto de quando tirei a habilitação tipo B, para dirigir carros, há dez anos. Sentia-me o Valentino Rossi sobre duas rodas.
Quem é habilitado a dirigir motos não precisa ler o próximo parágrafo.
Para tirar a licença, não é necessário sair às ruas, transitar entre veículos maiores nem dar preferência aos pedestres. Basta apenas percorrer um circuito que inclui um "oito" tipo autorama, uma prancha com cerca de 30 centímetros de largura, uma rampa, algumas paradas obrigatórias antes de faixas de pedestre em miniatura e desenvolver quatro trocas de marcha. Como se "tuuudo" isso fosse capaz de definir se o cidadão está apto ou não a dirigir um veículo motorizado de duas rodas em meio ao trânsito tantas vezes infernal.
Na pista da 13ª Ciretran, dois profissionais ficavam atentos a cada movimento dos candidatos a motoqueiro. Um deles, descendente de japoneses, esforçava-se para falar em tom mais grave, como se fosse ele um delegado e os demais, presos na carceragem. A impressão era de que ele tinha chupado limão, verde. O outro, baixinho e com alguns traços italianos, nada falava, mas muito anotava em sua prancheta.
Fui o terceiro a encarar o circuito, numa lista que seguramente passava de cem pessoas. Pulsos firmes e braços relaxados, parti para minha volta sem a devida concentração. Talvez pelo excesso de confiança – ou pela falta de medo que nos faz redobrar a atenção – "pisei" com o pneu traseiro na linha e, tão logo terminei a prancha, o fiscal baixinho gesticulou anunciando minha reprovação. Inconcebível falha. Penso que se tivesse outras 99 voltas, teria êxito em todas.
Ao conduzir a moto para o "estacionamento", sob olhares de uma centena de nervosos espectadores, senti-me como um piloto de Fórmula 1 que, confiante em uma boa corrida, tem de retornar aos boxes com o carro avariado após uma batida. A sensação, experimentada até pelos lendários Ayrton Senna, Alain Prost e Michael Schumacher, não é nada agradável, posso garantir. Agora sei que devia ter optado por uma volta a la Rubens Barrichello, ou seja, com toda cautela, prudência e sem excesso de velocidade.
Já sem o capacete, pensei: "a má fase permanece". Tive a vontade de gritar de raiva, e também de reclamar daquela quarta-feira no Procon, por propaganda enganosa. Do lado de fora do cercado do "autódromo", o instrutor me alcançou uma cuia de chimarrão, para depois informar: "o reteste custa R$ 100". Bom, em tempos de azar, deve ser esse o preço cobrado pelo destino para se ter sorte no amor ou, quiçá, ver a Ana Paula Arósio de perto. A essa altura, é melhor ter fé do que ser incrédulo.