Eu só queria entender

Até hoje eu não consegui entender ainda. Várias pessoas já tentaram me explicar, porém como sou meio tapado, não há quem consiga me enfiar na cabeça que isso seja verdade.

Vejam bem; na minha época, o ensino nas escolas brasileiras era considerado uma referência mundial. Vários países de primeiro mundo não possuíam um modelo tão eficaz como o nosso. Estou me referindo ao modelo de ensino, e não ao fácil acesso a esse modelo de ensino, pois em muitas regiões desse Brasil Continente muitos nem sabiam o que era uma escola.

Todavia um jovem quando concluía o quarto ano primário já sabia ler fluentemente, escrever perfeitamente e fazer com facilidade as quatro operações básicas para a sua sobrevivência. Quando chegava à oitava série, ele tinha um domínio tão grande sobre qualquer matéria, que o consideravam um intelectual. E o mais interessante é que os jovens gostavam realmente de passar essa imagem de intelectual. E com toda razão, pois para chegar aonde chegara, ele o fizera com todos os méritos do mundo, e não por uma simples questão de números de pesquisa para um governo medíocre, como tão medíocre, é o ensino nos dias hoje.

Em uma pesquisa recente, em que envolveram alunos de todos os países do planeta, o Brasil ficou em uma posição no mínimo ridícula, atrás de países sem a menor expressão no cenário mundial, possuidores de uma renda per capita bem inferior a nossa.

Na época do ensino ultrapassado, como assim rotularam algumas pessoas, nós só tínhamos duas alternativas: Aprender... ou aprender. Pois quem não se esforçasse para isso repetia de ano. E re-pe-ti-a mesmo. Não havia nada mais vergonhoso para uma pessoa do que repetir de ano.

Tínhamos uma prova por mês, e éramos obrigados a ralar feito um doido para passarmos em todas. Quando chegava no fim do ano, era feito uma média geral sobre as nossas notas, e se não obtivéssemos um mínimo de cinco, éramos bombados. Re-pe-ti-a mesmo. Então meu irmão; querendo ou não querendo tínhamos que estudar para cassete. Você tinha que ralar feito um condenado para não fazer parte da turma de repetente, pois na minha época ainda existia vergonha na cara, e nada era mais humilhante que repetir de ano. E aprendia viu meu irmão! E como aprendia!

Até que em certo dia, se reuniu um monte de cú de veludo, e resolveram gritar pelos quatro cantos que aquele modelo estava ultrapassado. (???)

E dai então criaram um novo modelo de ensino no Brasil. (???) E é ai que eu não consigo entender. Dizem que esse é super moderno. (???) Dizem que esse é melhor que o outro! (???)

Como pode ser melhor que o outro, se hoje, alguns jovem chegam à oitava série sem repetir nenhum ano, pois agora não existe mais repetição, e o infeliz não sabe nem como é que se faz uma multiplicação. Divisão então é melhor nem pedir, pois ele nem sabe o que é isso. A maioria não sabe nem mesmo escrever o nome direito. Peça para um jovem ler um texto para você. Meu Deus do céu é um verdadeiro suplício. Parecem aqueles carros velhos pegando no tranco.

E isso tudo na oitava série. Sem contar um monte deles que chega à universidade, não sabendo nem mesmo escrever o português corretamente e muito menos fazer as quatro operações aritméticas.

Infelizmente a realidade é uma só. É ínfima a quantidade de jovens que realmente freqüentam uma escola para aprenderem. A maioria vai apenas por ir. A maioria vai à procura de outras coisas, que com certeza não é o aprender. Afinal ninguém repete mesmo. Então, prá que estudar. Para que ralar feito um doido se isso é coisa do passado. Isso é do tempo dos bocoiós de molas que fizeram parte de um modelo ultrapassado que não tem mais vez nos dias moderninhos de hoje. Dizem que o modelo atual é sem dúvida alguma bem "mais melhor" que o outro.

Tá legal! Eu aceito o argumento! Mas não me altere o samba, por favor!

Afinal... eu só queria entender!