A FORÇA DO AMOR !
Naquele tempo eu trabalhava como voluntária no Lar Meimei, na Vila Joaniza, São Paulo e para chegar lá eu tomava ônibus lotado, e dividia espaço no coletivo com alguns elementos muito estranhos...
Neste dia, assim que entrei pela porta de trás, notei um clima de suspense: Vi um rapaz de cabeça raspada, com os olhos vermelhos, fazendo ameaças a um outro, que estava ao lado da janela. Todos estavam no último banco... Quis descer imediatamente, mas a porta já estava fechada. Os passageiros, todos mudos! A maior parte já tinha passado a catraca e só sobrou eu e os do último banco...
Tive uma intuição de que eu deveria ser instrumento de intervenção na briga daqueles dois, que vinha acontecendo desde o centro de São Paulo. Lembrei-me de um caso narrado por Pietro
Ubaldi , meio parecido com este...ao mesmo tempo que uma voz me falava: Este é um caso para você resolver!
Já que eu estava fechada no ônibus com aqueles elementos, procurei usar os recursos do amor incondicional, agindo como se fossem realmente meus irmãos... Assim, começei a olhar com muito amor e transmitindo calma para o rapaz que estava todo empenhado em atacar e prometia matar o outro antes que a gente descesse do ônibus... Um senhor que ficara no meio dos dois, estava rígido aguardando o desfecho...
Depois de eu continuar olhando fixamente nos olhos do agressor e sentindo que ele já estava ficando incomodado, me aproximei dele, coloquei a minha mão direita sobre a dele e alisando-a, falei com muita doçura :
- Calma, meu irmão...calma...
Aí, a reação foi imediata: Ele levantou-se do banco e disse para o outro que estava amarelo, junto à janela do ônibus...
- A sua sorte é que entrou essa moça, mas eu vou te esperar quando você descer...viu? E foi em direção à catraca, pagou e se juntou às pessoas que se apertavam com medo dele, na frente...
Assim que ele se foi eu disse para o outro:
- Eu pago a sua passagem, desça no próximo ponto!
- Cobrador, deixe este senhor sair pela porta de trás, por favor - e ele abriu a porta.
E quando o senhor já ia descendo ...falou:
- Ele pensa que ia me matar, mas eu já estava com o canivete pronto para atacá-lo, não fiz isso antes porque tenho família, filhos... obrigado!
Todos respiraram aliviados! O agressor, agora, já sentado e não enxergando o que se passava no fundo do ônibus, esperava a hora que o outro descesse ...
Bem, chegou o meu ponto em frente ao Lar Meimei... Pensei:
Tenho que passar por ele outra vez. Assim que ele me viu disse que o outro teve sorte porque eu entrei no ônibus na hora certa...
Aí eu aproveitei para lhe dar uma leve reprimenda:
-Todo mundo aqui está com medo do senhor! Se quer brigar, briga lá fora!!
Desci e as crianças já estavam me aguardando na frente do Lar...
********