O TER E O SER
O TER E O SER
Autor: Moacir Silva Papacosta
No dia 2 de novembro de 2.000, por coincidência, último Finados do século passado, fui ao cemitério São Miguel, localizado na parte baixa da cidade de Jataí - GO, com o fim de orar pelos falecidos e enquanto acendia velas num jazigo de uma família tradicional desta cidade, isto por volta de onze horas e trinta minutos, uma tristeza imensa tomou conta de mim, pois até aquele exato momento nenhum membro da referida família havia marcado presença naquela data tão reverenciada na sociedade terráquea: “Dia dos mortos”.
Comecei a meditar tentando fazer uma poesia, mas diante a minha decepção a rima se evadiu e o que me restou foi a vontade de escrever estas linhas para me desabafar.
Gananciosos, materialistas, pelos bens transformamos em guerra, vidas de outrora paz! A amizade há tanto tempo cultivada não passava de falsidade. Aparentava ser grande e sincera até o dia que a desconfiança descabida apareceu. Os mortos estão vivos e a 'amizade' morreu!
Neste mundo, onde inquestionavelmente somos pessoas algemadas pelo TER, e extremamente indiferentes ao SER, pecamos ao amaldiçoar nossos irmãos, que foram criados à imagem e semelhança de Deus em detrimento do possuir mais, mais e mais mesmo que para atingirmos este objetivo, tenhamos que maltratar aqueles que nos rodeiam.
Esquecemo-nos ainda que, nossas vidas neste mundo são passageiras e aqui somos apenas simples peregrinos. Um dia destes, como os nossos finados, haveremos de morrer, e, para o céu ou inferno nada levaremos, a não ser as nossas obras.
E no dia do acerto final como ficarão as nossas desavenças, as nossas desconfianças, o nosso apego excessivo aos bens materiais?
E as nossas falsas calúnias, injúrias e difamações, levantadas impensadamente contra nossos irmãos, como serão vistas pelo criador? Temos que nos preocupar com este dia, pois seremos julgados e medidos da mesma forma que julgamos e medimos nossos semelhantes. Esta é a palavra daquele que não tinha sequer um travesseiro para colocar sua cabeça ao anoitecer, mas, mesmo assim, nos deu grande lição de humildade e amor, dando-nos a sua própria vida para nos salvar!
Por que o mundo não é melhor? A resposta é simples. Porque os homens não são melhores, e ainda, não se preocupam com seus interiores, sobretudo com as riquezas espirituais, as quais as traças não estragam e ninguém as rouba.
Nosso objetivo nesta curta passagem por este planeta chamado terra é vivermos intensamente o Amor e praticarmos ininterruptamente o Perdão, pilastras que sustentam a Paz, no entanto, sem nenhum exagero, falam mais alto nosso egoísmo e nossa vaidade pessoal, que muitas vezes amordaçam os sublimes valores e sentimentos, transformando o homem racional no pior dos animais.
Aristóteles, o grande filósofo grego, deixou-nos um célebre pensamento que retrata a presente realidade: “O homem quando virtuoso é o mais excelente dos animais, mas, separado da lei e da Justiça é o pior de todos”. Daí, a necessidade premente de atermos às leis terrestres e celestes com o fim precípuo de promovermos a Justiça hoje, aqui e agora, porque o amanhã não nos pertence e talvez quando dermos conta de nossa culpa e porque não omissão, detectaremos que foi demasiadamente tarde, vez que o momento vivido hoje, é único, e não teremos oportunidade de vivê-lo nunca mais! O amanhã é outro dia, outra experiência, outra página a mais registrada na nossa história. E esta seqüência de dias após dias, de experiências após experiências é uma engrenagem natural que cada um de nós haveremos de passar de uma ou de outra forma, até chegarmos à reta final, consolidada através de nossa morte material, onde se dará inicio à vida eterna, a grande esperança para os que têm fé.
Ademais, neste mundo, onde Deus nos deu a oportunidade impar de desfrutarmos das suas maravilhas, após a nossa morte, só ficarão, as boas lembranças que serão recordadas pelos nossos filhos, netos, “parentes” e amigos.
É de se ressaltar que, ninguém se lembrará daqueles que aqui cometeram injustiças e o que é pior, não semearam a semente do bem. Serão brevemente esquecidos, e, por ironia do destino, os bens por eles deixados, servirão para a promoção de novos desentendimentos familiares, onde os filhos, obviamente, seguirão seus exemplos.