E o Troféu Ousadia vai para...
Sempre tive uma relação atávica, visceral com a música e sempre quis entender também por quê, pois cada vez mais me comove, mobiliza e me inspira com muita intensidade. Menina, pensava que cada pessoa deveria ter uma “trilha sonora”, que cada momento da vida poderia ser traduzido com música. Conseguem imaginar alguém de onze anos às lágrimas ao ouvir Maria Creuza? Pois assim fui e sou quando algo me emociona, em especial, a música.
Adolescente, minha trilha fincou raízes na MPB e em suas várias correntes. Pude experimentar... parte romântica, parte engajada, parte de raiz. Nessa época, tive uma vizinha radialista, âncora de um programa matinal de variedades. Na primeira vez que fui convidada a “ver” a emissora, fiquei tão deslumbrada, tão empolgada que passei a ir praticamente todos os dias. Mais um pouco e já a ajudava a preparar uma lista imensa de músicas, base para muitos e muitos programas.
No inicio dos anos oitenta, as canções que ouvia ganharam rosto, corpo. Passei a frequentar shows e o Projeto Pixinguinha foi fundamental para consolidar minhas preferências, meu aprendizado constante. Época também dos Festivais Universitários, conheci muita gente boa de minha terra, que fazia - e ainda faz- música de qualidade, verdadeiros heróis da resistência, gente que pensa e produz cultura, que não se rendeu ao apelo da mediocridade, das porcarias que tentam nos impingir a mídia que constrói e derruba os ícones do mau gosto, todos alicerçados no valor do “jabá” que as gravadoras disponibilizam aos Domingões e congêneres.
Nesse período também ouvi e vi maravilhada a Orquestra Sinfônica Brasileira se apresentar e me emocionei ás lágrimas. E a partir daí as apresentações de orquestras ganharam uma fã atenta, curiosa, disposta a aprender com a emoção, tudo que aquela sonoridade me proporcionava.
A mesma emoção fluiu com o canto coral. Uma colega de escola me convidou para uma celebração em sua congregação e me apaixonei perdidamente por aquele jeito de cantar, por aquele jeito de ser tão uno e tão diferente. Aqui em Maceió há coros maravilhosos e- ainda bem- um público muito fiel para suas apresentações.
E se não me falha a memória, desde 1988 acompanho, da platéia, o Encontro Nacional de Corais de Maceió , que depois de alguns anos agregou o International Choir Festival. Há algum tempo se transformou em ENCORAL – Encontro Internacional de Coros em Alagoas, organizado pelo CORETFAL / Ponto de Cultura Encantando a Vida e IF/AL – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Alagoas.
Desde o último dia 16 Alagoas se encanta com o ENCORAL.
Diversos bairros, Pontos de Cultura e instituições da periferia de Maceió e as cidades de Marechal Deodoro, Arapiraca e Coruripe respiram música.Um gosto ver a evolução de alguns, a emoção que se instala quando se apresentam, como se empenham e lutam para não deixar morrer uma expressão tão rara, tão nobre do ser humano, que é o uso da voz como instrumento que produz beleza e encantamento.
E ontem, depois de tantos anos sentada na platéia me encantando com tanta gente criativa e ousada, fui ao palco protagonizar a minha ousadia: quando o mestre de cerimônia noticiou que sua companheira de palco, a Jornalista e também coralista do CORETFAL Gal Monteiro estava na cidade de Arapiraca e ele convidava alguém da platéia para dividir com ele a parte inicial da apresentação dos coros daquela noite, não pensei duas vezes: me ofereci.
Diante de um teatro de 1200 lugares praticamente lotado dividi o palco com Marcos, o simpático mestre de cerimônia que ao agradecer minha participação me agraciou com o troféu Maria Augusta Monteiro, primeira maestrina do CORETFAL, por quem Alagoas tem uma dívida de gratidão, por seu zelo e amor ao canto coral.
Hoje também estarei lá na platéia, revendo e prestigiando o espetáculo de encerramento – Retrato Cantado do São Francisco, protagonizado pelo CORETFAL, com regência de Fátima Meneses, filha de Maria Augusta.O espetáculo é um canto de amor a este personagem tão caro a todos nós. Neste retrato, o Velho Chico desfila aos nossos olhos encantados o jeito de viver e ser de seu povo, sua luta para sobreviver, sua agonia e suas belezas.
Não esperava ganhar um troféu por meu excesso de atrevimento e cara-de-pau, mas já que ganhei dedico aos que como eu cantam e vivem o “mantra” de Gonzaguinha: “ Viver, e não ter a vergonha de ser feliz Cantar e cantar e cantar A beleza de ser um eterno aprendiz Ah meu Deus eu sei, eu sei Que a vida devia ser bem melhor e será Mas isso não impede que eu repita É bonita, é bonita e é bonita!!!!!”