Expert
Suponho que seja uma palavra do idioma Inglês, mas que tenha sido incorporada ao Português, assim como "Stress" e outras. "Expert", como vocês sabem, é o termo para denominar alguém que domina completamente algum tema. Uma pessoa considerada uma "expert" no assunto, provavelmente estudou-o durante muito tempo, conhece cada curva e cada reentrância do objeto em questão. Logo, um expert é alguém a quem você pedirá ajuda se estiver com problemas.
Nos jogos eletrônicos, a expressão também é usada com outro intuito. Quem já jogou qualquer vídeo-game na vida, sabe que antes de começar a brincadeira, normalmente você precisa escolher o nível de desafio, dificuldade das tarefas que terá de executar durante o mesmo. E estes níveis de desafio normalmente se dividem em: "fácil", "médio", "difícil" e "expert". Desnecessário dizer qual deles é o que apresentará mais dificuldades, certo? Pois, explicado isso, posso começar o tema da crônica.
Eu tenho dito para os meus amigos, ultimamente, que quando Deus me perguntou qual o nível de dificuldade que eu gostaria de enfrentar durante a minha vida, eu escolhi "expert", para fazer um charme para as garotas ao redor, ou coisa do gênero.
É uma piada um tanto quanto derrotista, por mais engraçada que soe. Estipular que a minha vida seja muito mais complicada que a de todos os outros, que os problemas que eu tenho são muito maiores que os das outras pessoas, me parece uma justificativa furada para não conseguir superar certas barreiras.
Por mais que eu costume dizer isso em tom de brincadeira, ainda assim, existe uma ponta de verdade nestas palavras. E isso é preocupante. Justificar a incapacidade de superar os problemas é o primeiro passo para desistir.
Percebam: depois de ter uma tentativa frustrada de superar um obstáculo, a pessoa começa a pensar que ele é realmente difícil. Depois, supõe que seja difícil demais, e que raras pessoas conseguiriam superá-lo. E então, presume que ele não é um desses poucos individuos capazes de passar por aquela barreira. E nesse ponto, desistir não soa tão ruim. A pessoa perde aquela necessidade que tinha de cumprir o citado objetivo, por perceber que ele é complexo demais. Já não será uma mancha em sua dignidade se ele abandonar o barco agora. Seria praticamente lógico, visto que o desafio é intransponível. Por que ficar dando murros em ponta de faca? Jogue logo a toalha e pronto, ninguém irá lhe cobrar nada.
Errado!
Durante essa semana, estive assistindo os noticiários que divulgavam os problemas que as enchentes no Rio Grande do Sul causaram. Pessoas que perderam suas casas, seus pertences, algumas até perderam algum ente-querido. E no final da reportagem, cada uma dessas pessoas dizendo: "só nos resta continuar tentando". E então, a dondoca aqui, só por que teve um probleminha qualquer, resolve desistir de tudo e virar monge? Quer dizer, isso chega a ser uma ofensa de minha parte. Se alguém que perdeu tudo o que construiu durante toda a vida, por menos que tenha sido, continua lutando, que direito tenho eu, um cara saudável, com um emprego e uma família, de desistir?
Parece discurso de pai, eu sei. Mas parem para pensar um instante: Será que a nossa vida é realmente tão ruim? Será que o nosso problema é realmente insuperável? Ou será que nós, acostumados com a vida mansa e segura que temos, estamos desistindo muito fácil de qualquer coisa que nos exija um pouco mais de esforço?
Eu comecei a perceber que o nosso cotidiano, quando nos oferece segurança, nos desestimula a buscar novos desafios. Se nós já temos um alicerce firme sobre o qual colocar os pés, por menor que ele seja, irá nos criar uma sensação de conforto que nos impede de buscar algo melhor.
Meu pai costumava dizer que eu deveria arrumar um emprego qualquer, só para começar a vida. Mas que o quanto antes, deveria procurar um emprego melhor, pois se eu me acomodasse no primeiro, não teria disposição para procurar um segundo. E ele tinha razão. Por pior que seja o meu emprego atual, ele me dá uma estabilidade que proporciona conforto. E esse conforto reprime grande parte da minha vontade de evoluir.
Suponho que o ser humano seja um animal preguiçoso por natureza. Ele só luta até chegar em um lugar bom o bastante para descansar. Depois disso, nem faz tanta questão. Mas o perigoso desse marasmo é o seguinte: se eu perder essa vontade de evoluir, eu realmente não vou evoluir. Óbvio, eu sei, mas pensem comigo: o emprego que é bom hoje, continuará sendo bom no dia em que eu tiver de criar um filho, por exemplo? Provavelmente não. É nisso que nós temos de pensar. A vida pode parecer segura hoje, mas ela está sempre mudando. As nuvens de hoje são a tempestade de amanhã. Então essa sensação de segurança que eu tenho atualmente, na verdade, é falsa. Acreditar que está tudo bem por agora é burrice. Ninguém pode parar de crescer, senão ficará para trás.
Então, por mais que eu já soubesse, só agora eu admito: A vida está no modo "expert" para todos. E todos temos capacidade para superar os desafios que nos aparecem. E sem recorrer a truques ou coisas do gênero. O grande diferencial das pessoas que hoje têm tudo das pessoas que não tem nada, é a vontade de crescer, a ambição. Aquela inquietação que as obriga a buscar mais e mais, sempre. A incapacidade de sentar no sofá e dizer "agora tenho tudo o que quero". O mundo é tão grande, tem tanto para se ambicionar. Por que se saciar com tão pouco?
A decisão é complicada, e aceitar que nós somos preguiçosos é mais complexo ainda. Mas suponho que seja algo válido para a nossa evolução. Abrir os olhos, abandonar o conforto que já construimos e buscar algo mais. Imaginar-se sempre um andar acima e buscar chegar lá.
A escolha é sua: viver a vida toda para chegar ao final dela e se sentir arrependido por nunca ter abandonado o cotidiano, ou enfrentar os desafios, bater de frente com eles até superá-los, chegar no topo, olhar para trás e dizer: "Sou expert". A vida não é aquele programa antigo da Globo, mas a máxima vale também: Você escolhe o final!