Conspirações do AMOR

- “Caramba!!! O que está acontecendo comigo? Não consigo mais escrever!!!”

Foi desta maneira que o poeta exclamou antes de deitar e tentar dormir, o computador ligado esperando o texto final, continuou com a sua folha em branco, nem uma letra sequer aparecia na tela do monitor, não que fosse uma obrigação dele escrever algo antes do seu descanso, pelo contrário, o seu talento era justamente escrever, principalmente sobre o amor, isso a qualquer hora do dia. Muito popular, por onde andava era reconhecido, seus poemas corriam por toda a cidade, os pais ao verem pela rua, mostravam-no aos filhos, envaidecido, gostava daquela situação, e gentilmente retribuía com muitos apertos de mãos, abraços e beijos nas crianças. Diariamente publicava os seus poemas no jornal da cidade, era um sucesso de vendas, assim que a empresa o contratou, o faturamento triplicará em seis meses.

O orgulho dos pais e de toda a cidade, era o filho mais ilustre do lugar, quando mais novo, logo que descobriu o dom, viajou por todo o estado e até pelo país, ganhando inúmeros prêmios com os seus versos sobre o amor. Já mais velho, obteve diversos privilégios, namoricos passageiros e até patrocínios para as suas viagens. No lançamento do seu primeiro livro de poesias, na capital, vendeu centenas de exemplares, a fama agora era mais ampla, com o dinheiro conheceu muitos países e dezenas de culturas diferentes e teve a honra de aproximar-se dos “imortais” da Academia Brasileira de Letras, um dos seus sonhos mais antigos, porém com tudo isso faltava-lhe um amor para estar ao seu lado, uma única musa para as suas composições, todas dedicadas a ela, que seriam as mais sublimes.

E o seu desejo foi concebido, os anjos estavam ao seu favor, aquela que seria a sua eterna inspiração, estaria a sua espera numa dessas viagens de fim de semana. Sentado confortavelmente na poltrona do avião, aguardando a decolagem, e distraído com um livro de Drummond, nem percebeu que ao seu lado sentou–se uma bela mulher, extremamente linda, na decolagem da aeronave sentiu uma mão delicada sobre a sua, tremula e suada, voltou-se para a passageira e apaixonou-se, seus olhos agora eram tomados pela formosura daquela criatura e em pleno voo declarou o seu amor. Pegou um bloquinho de papel que costumeiramente andava consigo e tentou rabiscar algo, não saiu nada, estranhou-se, pensou por uns minutos e achou ser um breve nervosismo por estar ao lado de “sua musa inspiradora”.

Naquele fim de semana, se entregou totalmente a ela, agora sim era um homem completo, o homem mais feliz do mundo. Na volta, tentou novamente fazer uma poesia, e mais uma vez a sua inspiração lhe deixou, preocupado com a situação, pois precisava “dela” para trabalhar, pediu uns dias de férias para o jornal. Não sabia o que estava ocorrendo, simplesmente não conseguia mais escrever, passou aquela semana tentando descobrir o seu problema, refez todo o caminho, para então perceber que, a musa inspiradora, estava envolvida com a situação, fazia parte da conspiração. O seu amor por ela era tão intenso, que nada do que escrevia, achava o suficiente para demonstrar toda a sua admiração por aquela mulher, e conclui que tudo o que escrevera até o momento que a encontrou, não passava de palavras “vagas”, sem sentimentos, escrevia as suas poesias sem ao menos saber o que realmente era o verdadeiro amor, e a partir desse fato, nunca mais ousou se quer pegar numa folha para rabiscar.

Por não querer mais escrever as suas poesias de amor, foi demitido do jornal, perdeu o prestígio na cidade e agora, na rua, o olhavam de outra maneira, mas nada disso conseguia tirar do seu coração, o som imponente da paixão e da felicidade, nada aquilo era mais necessário, bastava apenas à companhia de sua adorada e verdadeira “musa”, para a qual nenhum poema era verdadeiramente belo como os seus olhos e nem realmente sincero como o que sentia por ela.

Regor Illesac
Enviado por Regor Illesac em 19/09/2009
Código do texto: T1818691
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