A MULHER DEITADA

A jovem mulher estava deitada, em pleno final da Rua Florida, em Buenos Aires, aos pés do sujeito impávido, que a olhava desdenhoso. A ruidosa multidão passando em derredor via a cena com espanto, como se assistisse a um filme de cafajeste que trata a companheira com a estupidez de porcos chauvinistas. Ninguém fazia ou dizia nada ante aquele espetáculo inesperado e esquisito, apenas deitava os olhos atônitos sobre a cena inusitada e ficava esperando o prosseguir do momento ou seu desfecho repentino.

Quando avistamos o palco daquele estranho acontecimento ao passarmos por ali, a noite começando a abraçar a cidade em burburinho, os automóveis indo e vindo desesperados após o fim do expediente, eu e Ana percebemos como tanta coisa pode se nos deparar aos olhos numa metrópole gigantesca como Buenos Aires, onde vivem mais de quatorze milhões de habitantes. Estávamos apressados porque havíamos passado o dia conhecendo o bairro de Palermo Viejo e ansiávamos chegar logo ao hotel, que ficava nas proximidades daquele local onde se desenrolava o acontecimento diferente. Em razão da pressa, portanto, simplesmente olhamos, sorrimos e fomos em frente, somente virando o rosto para ver se a jovem continuava no chão. E foi exatamente nesse instante que ela, rápida, levantou-se como se movida por uma mola potente e, por motivos inexplicáveis, aplicou um forte murro no rosto do cara aos pés de quem estivera antes. Paramos, perplexos, a multidão, também. Um policial que antes somente apreciava tudo foi até eles e ficaram discutindo em voz alta durante um minuto, depois pareceu reinar a calma pois o policial se foi, o casal saiu de braços dados e nós seguimos em frente.

O espetáculo, contudo, ainda não havia terminado. Como nesses casos tudo ocorre, para nós testemunhas, de maneira súbita e surpreendente, quando menos esperamos os dois atores da cena real protagonizavam um novo episódio de seu drama: ele corria desabalado à frente dela, que, esbaforida, gritava frases incompreensíveis em espanhol e buscava alcançá-lo a todo custo, sem conseguir. E lá na frente, muito mais que de repente, perante nossos olhares de surpresa, ela bruscamente caiu esparramada sobre o asfalto batendo o rosto com forte ímpeto no chão. Como nos encontrávamos um pouco distantes deles não vimos se havia sangue no rosto da jovem, mas tivemos certeza de que a queda sofrida foi realmente grave e alarmante. O grito que lhe saiu da garganta comprovava isso. Ela, porém, levantou-se gritando ainda mais e certamente eram impropérios e se foi na perseguição do sujeito, que não se sensibilizou nem ao ouví-la berrar de dor quando caiu. Vimos os dois dobrar a esquina próxima e desaparecer de nosso campo de visão.

Nossos corações ainda batiam num ritmo descompassado quando chegamos ao hotel.

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SEM AMOR NUNCA!

Sem amor a vida seria o núcleo do caos, um lodaçal no qual nos revolveríamos entristecidos

A MELHOR IDADE

A melhor idade é estar vivo e gostando de viver, cuidando para que haja qualidade de vida e sonhos a acalentar. Não importa em que idade estejamos, estar vivo é a melhor coisa do mundo.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 19/09/2009
Reeditado em 20/09/2009
Código do texto: T1818607
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