Pequena história
E o sol pungidor se fez em seus olhos. Estrela maior, como pode? Há um pouco de desatino em tudo, haveria ele de pensar. E como a dança da miséria lhe fosse pouco, cuspiram-lhe á face. Era um estouvado qualquer. Como podia? Será meu tamanho tão insignificante assim? Era, pensava. Do pouco que deu, tomaram-lhe tudo. Um acrobata inerte é o que sou. Havia um peso ininteligível em suas costas, e continuava. Nos segundos que ficou subjugado pela terra, pensou deveras; sentiu mais ainda. Era pouco, muito pouco. Ou pouco era? E do que valia, agora? As comportas da expressão fecharam-se. Seu rosto era o mesmo, e rosto algum era igual ao seu. Não se lhe aplicava um sentimento exato, correto. Era tudo ao mesmo tempo, e que tempo... E tu foi massacrado, filho, ouvia. Donde? Donde sai essa voz espúria e longínqua? Dá-me um consolo, apenas. Nada. Vazio no imo. Era isso. Era pouco, muito pouco... Se lhe não mais aplicava a gravidade; seu corpo, incrustado ao maldito chão, clamava palavras indizíveis. Que tinha a natureza com tudo aquilo? Era esse o manifesto paradigmático geral. Um pulha. Um pulha! Falavam. E a dignidade humana, o contraditório, a ampla defesa, a sistemática jurídica em favor do miserável? Não, não. Era ele aquele ali, jogado. E certamente não o era, nunca. Como puderam? Me se dessem uma oportunidade, uma fagulha mínima de respeito... Um ébrio macabro. Entorpecido pela sociedade que ele próprio era parte e – dizia - sem culpa de nada. Mas que é a culpa? Era esse prejulgamento anexo á condição humana? E se for, onde irá? Longe, irmão, longe, ouvia.
ps: continua