Brasil - Um país com vertigem
País com vertigem, e que também se medica com remédios desproporcionais à doença.
Quando os militares desistiram da ditadura, os brasileiros não sabiam o que era uma democracia de verdade para construir uma. Assim, o primeiro presidente pós-ditadura foi eleito indiretamente; e como aprendemos a odiar a política, não sabemos votar; como não aprendemos a ter liberdade, aceitamos os ditames das elites, dos governos, e da televisão passivamente.
Quando os militares deixaram o poder, deixamos de cantar o Hino Nacional, de celebrar o Dia da Independência, e de ser patriota, porque tudo isso representava ser simpatizante dos milicos e da censura torturadora, ao invés de representar amor sincero ao seu país. Por isso, hoje, nós somos os patriotas de Copa do Mundo, por isso as crianças de hoje decoram as letras obscenas de funk ao invés do Hino Nacional, porque somos um país libertino, sem censura, onde crianças, no recreio (e na sala de aula também), podem rebolar sexualmente e cantar palavrões que aprenderam com as bandas vulgares que se apresentam na nossa televisão sem censura e democrática.
Não sabemos o que é censura, nem democracia, nem liberdade, nem política, nem patriotismo, nem cidadania.
Estamos financiando uma educação escolar cada vez mais alienante e idiotizante; financiamos um sistema jurídico cada vez mais criminoso; através dos recursos pagos por nós contribuintes aos representantes políticos corruptos que não cumprem seu dever, financiamos o tráfico de drogas, o aumento da marginalidade, a falta de saúde pública. Enfim, financiamos a ignorância e a selvageria, ao som de um rebolado.
Não sabemos as letras de nossos hinos, não sabemos fazer conta, não sabemos fazer política, não sabemos nem falar nosso idioma corretamente. Mas sabemos dançar!, e levar esta alegria contagiante e alienada para o mundo todo assistir. Nossa alegria dançante e libertina é nosso legado para a humanidade! Será isso mesmo o melhor que podemos oferecer à humanidade?
Mas eu quero acreditar em uma sociedade melhor, onde os cidadãos esclarecidos possam se unir e mudar este país. Do contrário, em um futuro não muito distante, teremos que nos acostumar até com novas versões de hino nacional, talvez gravadas por bandas populares, e aí sim, por fim, cantadas com gosto por nossas crianças, na hora do recreio.