102 - O ASSUNTO É ZE LOPÃO...
102 – O ASSUNTO É ZÉ LOPÃO!
Zé Lopão é uma dessas figuras que fazia jus ao nome. Do alto de seus quase dois metros sua cara de bulldog, seu olhar furioso, parecia estar sempre de mal com a vida.
Mas, sempre existia alguém que o conhecia além das aparências. Seu Raimundo da Farmácia Duarte, Seu Luiz Menezes, os meninos de Dona Olga também e outros, muitos outros.
Alguns casos do Padre eram dignos de nota. Certa vez o próprio delegado, Coronel Fonseca, enviou-lhe o seguinte recado: “vou encaminhar fulano de tal para ver o que o senhor pode fazer porque este não é caso nem de polícia. Esse infeliz não tem jeito”.
Eis o caso.
Andava por estas ruas de Itabira um destes desprovidos de sorte que andava por estes bares. Todos os dias ele saia fazendo sua peregrinação, ou via sacra. Percorria todos os bares e botecos da Praça da Bandeira, local mais conhecido como “ponto de briga”. Vivia pra lá e pra cá a semana inteira ... Tipo como este, vivia alguns em Itabira.
Mais conhecido como “Caetano Pontaria”, pois tinha um defeito visual que lhe impedia de abrir completamente os olhos. É como se ele estivesse mirando alguma coisa, um olho aberto e outro fechado! Foi um dos primeiros sem teto que conheci. Sem teto, sem família, sem eira nem beira! Todas as noites dormia mesmo ao relento ou em uma casa que estava abandonada nas vizinhanças da oficina de serralheria Quintão e filhos, local hoje conhecido como Avenida Martins da Costa.
Quando ele dormia na praça era ao abrigo do pé de sapucaia que havia no Largo do Batistinha e ele sempre brincava: “lugar mais protegido não há! Faço um fogo ao pé da árvore, tenho água do chafariz e estou bem perto da proteção de Cabo Torto e do Fonseca (Coronel com posto de delegado de polícia). Os policiais estavam sempre mandando que ele buscasse outro lugar para dormir. Nem sempre ele acatava as ordens o que lhe garantia certa reprimenda. Quando decidiu mudar de pouso subia pelo Beco do Calvário, tomava mais umas e outras com o Sertanejo, outro personagem bem conhecido nosso e buscava abrigo numa casa abandonada lá perto da sede da Banda Euterpe.
Uma das vezes que estava dormindo bem chapado em noite de lua cheia, quando entrou um casal porta adentro para namorar no meio da escuridão. E começaram a se esfregar. Era tal de “bem, você gosta dos meus cabelos? bem, você gosta das minhas orelhas? bem, você gosta da minha boca”? E o namorado só respondia: “gosto, gosto, gosto e gosto”!
Depois de algum tempo naquela esfregação e o Caetano deitado lá no fundo em meio aos papelões que trouxe da loja do Waldir Moura na Alexandre Drumond, disse com a voz bem rouca: “vai gostar de gostar assim lá na p.q.p!”
O casal saiu chispando, arrumando as roupas e prometeram não passar nunca mais nas proximidades daquela casa.
Foram reclamar ao delegado, que mandou verificar qual fantasma habitava aquela casa. Deram, de cara com Caetano que explicou o acontecido, dizendo: “será que não posso dormir em paz”? Aliás, foi isso mesmo que ele disse no momento em que acordou. Portanto, de alma penada ali não tinha nada.
Coronel Fonseca disse: “com você não tem jeito, ô... pontaria estragada! Mas, se isto é caso de alma penada, vou remetê-la ao Padre”.
Zé Lopão quando soube do caso falou: “comigo não, violão! Vá assombrar outra praça”.