O Legal e o Correto

Em frente ao distrito policial do Jabaquara, zona sul de São Paulo, um pai expressava ao telefone todo seu desespero e revolta ao saber que o homem que havia violentado sua filha de 11 anos seria liberado pelo delegado após a elaboração do boletim de ocorrência.

Era para a corregedoria da polícia civil que ele havia ligado, aconselhado pelos próprios investigadores da delegacia que discordavam dos procedimentos adotados pelo delegado que a apenas duas semanas sustentava o cargo. Um novato!

Burocraticamente estava tudo correto: Já havia passado mais de 48 horas do ocorrido, deixando assim de caracterizar flagrante delito. As duas partes seriam ouvidas e liberadas esperando o resultado dos exames médicos legais da menor para o prosseguimento do processo.

E foi isso que aquele pai ouviu da corregedoria, que os procedimentos estavam dentro da legalidade!

No papel soava muito bem mesmo, como 1 + 1 = 2, mas o direito faz parte das ciências humanas e não das exatas e cada história deve ser analizada individualmente, com base nas pessoas envolvidas nela, não por formulas prontas num papel.

Se já havia passado o tempo estipulado para caracterização de flagrante foi porque a menina de onze anos, além de ser arrastada para uma construção abandonada, amarrada, amordaçada e estuprada por três horas, também foi coagida com um revólver em seu rosto a manter silêncio ou ela e toda sua família morreriam.

Entendo a raiva do pai, que invadiu a delegacia para agredir o acusado e teve de ser contido pelos policiais.

Em seu lugar também tentaria fazer justiça com minhas próprias mãos já que o "longo" braço da lei não estava alcançando o bom senso!

Em certo momento esse pai fala com os corregedores sobre a presença da imprensa no local.

Em quinze minutos uma viatura é enviada ao distríto!

O discurso muda. Os policiais da corregedoria apertam o suspeito com um pouco mais de empenho e ele acaba confessando o crime, ficam "indignados" pelo delegado não ter pedido ainda a prisão temporária do criminoso (os investigadores são obrigados a esconder o sorriso).

Até mesmo aconselham o pai a abrir processo contra o delegado por prevaricação.

Tudo isso podia ter sido evitado.

Bastava o bom senso de diferenciar o que é legal do que é correto.

Eleazar de Santa fé
Enviado por Eleazar de Santa fé em 17/09/2009
Reeditado em 17/09/2009
Código do texto: T1815981
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