ENCOSTO LITERÁRIO - UMA CRÔNICA DE MAU HUMOR
Estou com um encosto literário. É um tormento. Não consigo me desligar dos pensamentos dissociados, permanentes, constantes, diuturnos, oníricos até. Quase me empurrando. Parece que a cabeça vai se fundir a qualquer momento como aquelas máquinas que, sobrecarregadas além da sua capacidade de botar para fora algum produto enquanto vão sendo alimentadas de matéria prima, começam a soltar uma fumacinha, exalar um cheiro de queimado e depois, bum!!! espirram peças pra todas as direções parecendo um vômito.
Nem a comida mais que tanto gosto de fazer tenho conseguido ser deixar queimar algo ao menos uma vez por dia. Vai aparecendo uma idéia, largo temporariamente o que estou fazendo (pensando ser rapidinho, apenas uma anotação de uma fantasia) e quando assusto, o cheiro de queimado me trai. Saem umas palavrinhas e vem a fome. E a necessidade de fazer outro prato ou ainda comprar pronto depende da hora ou da capacidade orgânica de aguentar esperar. Então, olho para a comida, olho para as palavras e jogo tudo fora. Ficaram ambas impróprias para degustação.
Não sei mais o que fazer. Daqui a pouco viro um ermitão de cadeira. Eu, uma cadeira e o computador vamos ter que andar unidos até a quase eternidade, digo quase porque quando eu secar aqui sentado, claro que vão me enterrar sozinho e aproveitar a máquina, se ainda estiver boa para uso.