É ela, ou eu?

Desde pequena, sempre diziam que eu parecia com papai. Sou morena como ele e nós dois éramos os únicos a usar óculos lá em casa. Meus irmãos até fizeram um bigodinho numa foto minha e esconderam o cabelo para justificar a semelhança. Ficou engraçado, parecia papai mocinho. Só depois de mais velho é que ele raspou aquele bigode característico da sua época. De mamãe eu só tinha a voz igual, no telefone, porque ao vivo não era bem a mesma. Ela era alta, eu baixa. Seus cabelos quase lisos e a pele mais branquinha.

Ela era mais agitada do que eu. Andava com passos largos e bem depressa. Na rua eu sempre ficava para trás. Numa loja, enquanto eu ia olhando as coisas, ela sumia. Já estava na outra, ali do lado.

O tempo passou e um dia, ao entrarmos não sei onde, eu e ela subíamos uns degraus e nos vimos num espelho. As imagens em movimento me chamaram a atenção. Fora a diferença de altura, o que ali se refletia eram duas mulheres quase iguais. Fiquei impressionada. Daí em diante comecei a prestar atenção, cada vez mais eu me parecia com ela!

Penso que não há mistério nisso, afinal sou sua filha. O que me intriga é a transformação. Não deixei de parecer com papai e também fiquei parecida com mamãe. Talvez no jeito, na expressão, no riso, sei lá.

O fato é que agora, de vez em quando, me pego a gesticular como ela. Sem perceber, repito suas palavras - no mesmo tom - e até imito suas caretas. O que faz meus filhos darem boas risadas.

Ao olhar de relance no espelho, levo susto. Lá está dona Laura a me fitar...