Sonho com um Papa marxista

Quando o Vaticano elegeu o cardeal Joseph Ratzinger para chefe supremo da Igreja Católica, confesso que, a princípio, para mim, não fez a menor diferença. Não tenho religião. Tampouco, professo idolatria aos super-heróis que inventam por aí.

Mesmo que esta estrutura pseudo-cristã não tenha nenhum significado para este cético que vos escreve, fazendo uma análise desprovida de pré-conceitos, torço para que o Papa Bento XVI exerça seu mandato de modo que lute pela justiça, em todas as instâncias.

Eu queria ver um Papa que criticasse os políticos corruptos que oprimem os pobres para os ricos viverem abastados. Este Papa deveria combater as mazelas do capitalismo, que socializa os sonhos e individualiza as oportunidades. Que não aceite a ‘palavra de Deus’ como especulação financeira, inclusive dentro do próprio Vaticano.

Que não seja covarde em denunciar os grandes bandidos que estão livres, amparados pelas leis que eles mesmos criaram e são tratados como reis pela sociedade. Que o Papa prefira os pecadores aos supostamente santos.

Que ele critique os que acumulam terras sobre terras e perdoe o mendigo que ocupou uma lavoura de trigo porque tinha fome.

Bento XVI deveria tomar partido em favor dos pobres. Que ele ensine ao mundo que a socialização das oportunidades é condição essencial para que todos tenham vida em plenitude.

Que ele despoje-se das luxúrias e mordomias de Santo Padre e ande descalço entre os mendigos, os leprosos, os homossexuais, os cientistas, as mulheres, os portadores de chagas, os ateus (por que não?). Que ensine que Pai Nosso é igual a Pão Nosso. Que liberte a igreja de um espiritualismo vazio.

Faço votos de que o Papa seja, acima de tudo, verdadeiro com a ideologia que professa. Que seus gestos retratem Jesus de Nazaré.

(*) Crônica publicada dia 13 de maio de 2005

Juliano Rossi
Enviado por Juliano Rossi em 24/06/2006
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