Atenção: Estamos em obras!

Você acorda cedo num belo dia de folga. É um daqueles dias raros em que dormir é o seu único e maravilhoso plano. Porém, você é abruptamente arrancado do mundo de Morpheus* graças a um incessante, estridente e extremamente irritante cantar de serrotes, martelos, furadeiras ou a combinação, nada harmônica, dos mesmos na grande sinfonia da obra mais próxima.

O que poderia ser pior?

A proximidade da tal obra é maior do que você supunha ou gostaria de admitir: ela está acontecendo neste exato momento, dentro da sua casa, dentro de você!

Cuidado:

A simples menção pode remeter-lhe a uma enorme dor de cabeça!

Bagunça, sujeira e barulho, muito barulho — é disso que toda e qualquer reforma é feita. Seja ela na sua rua, casa, carro, na sua língua (“bendita” reforma ortográfica!) ou mesmo no seu corpo — raros são aqueles que julgam desnecessária uma pequena correção nos dentes, nos “pneus” ou apenas superficial. Seja qual for o método, alvo ou resultado, uma coisa é certa: Reformas são sempre estressantes!

E então por que estamos sempre as buscando?

Buscamos reformas por acreditarmos que elas trarão melhorias — necessárias, funcionais ou meramente estéticas. Buscamos reformas porque cansamos da “mesmice” das coisas. Porque, em um dado momento, o estagnar se mostra ainda mais estressante que a reforma em si. Porque mudar faz parte da nossa natureza!

O universo, o mundo, a sociedade, o indivíduo, as células... Tudo está, em maior ou menor grau, sofrendo constantes transformações. Com um pouco de silêncio e atenção você pode até ouvir: É a constante roda (kármica ou temporal) a girar.

Cada dia é novo, único, diferente daquele que passou e daquele que está por vir. Cada instante nos abre uma gama de possibilidades. Cada interação — ecológica, social, literária ou intelectual — transforma irreversivelmente todas as partes envolvidas.

Eu já não serei a mesma ao término desta crônica, da mesma forma que você não será o mesmo (leitor) ao concluir sua leitura.

As pequenas e grandes mudanças que sofremos ao longo dos anos e operamos ao longo do caminho, participam do maior de todos os ciclos que é a vida. Um ciclo no qual todos nós giramos em torno de um mesmo eixo. Um eixo invisível, intrigante e, principalmente, instigante!

Estamos eterna e ininterruptamente em obras. Algumas são mais barulhentas, outras silenciosas, mas todas partilham de um mesmo objetivo: Melhor atendermos — seja aos outros ou a nós mesmo.

Então: Mãos à obra!

*MORPHEUS: Deus dos sonhos na mitologia grega; filho de HYPNOS, o deus do sono; significa "aquele que forma, que molda".

Publicada no caderno Mulher Interativa - Jornal Agora - Setembro/09