PERDIDA

Súbita insegurança a fez puxar a campainha para descer. A estrada à sua frente parecia não ter mais fim, olhou amedrontada a imensidão vazia, só a íngreme subida de barro cercada de mato com cheiro de umidade. Nada de casas, de gente, de escola muito menos. Onde estava?

Num gesto impensado pedira para descer antes da hora.

Não podia entrar em pânico, haveria de descobrir. Sem saber direito o que fazia começou a subir pelo aclive, atenta às folhas que pareciam ter vida e voz, o coração cada vez mais descompassado. Quase teve uma síncope ao deparar-se com o homem parado lá no alto a observá-la. Os olhos pareciam faiscar na semi-escuridão do anoitecer.

Um zumbido incômodo impediu-a de pensar, a garganta cada vez mais apertada rezou fervorosamente: Meu Deus, dê-me coragem...

Difícil foi controlar a tremedeira: Moço, por favor, pode me ajudar? Acho que tomei o ônibus errado.

A própria voz pareceu soar diferente, distante.

Continuou desfiando mentalmente uma prece: “Minha mãezinha, me livre desse estranho, faça com que não seja um delinquente.”

- Olhe, aqui não existe outra coisa senão a minha palhoça lá em riba – respondeu o homem. Indicou a estrada - A senhora espere pelo próximo ônibus, tenho de ir para minha casa agorinha mesmo.

Segurou o suspiro de alívio. Tomara que o estranho não desista de ir embora e volte ao ouvir as pancadas desordenadas de seu coração que parecia querer pular garganta afora, sair pela boca. Como podia ser tão covarde? O estranho sumira por encanto no meio do mato, deixara-a sozinha naquela noite escura. Respirou com força, determinou-se a não olhar para trás.

Surpreendeu-se quase a correr à margem da estrada, o ininterrupto vai-e-vem do trânsito a persegui-la.

Como pudera ser tão tola, pensou, ao avistar as primeiras casas e ouvir vozes.

Diante do portão por onde entravam os primeiros alunos para o turno da noite, invadida por infinito prazer abriu o caderno para conferir o endereço que anotara em sala de aula.

Escola Argentina Castelo Branco. Finalmente chegara ao local onde deveria cumprir o estágio com a sua equipe do último ano da faculdade. Por sinal, nem viv’alma.

Acompanhou maquinalmente os estudantes que pareciam ignorá-la, embora já houvesse decidido. Aquela seria a última vez, nunca mais poria os pés ali.

Em poucos minutos estava no interior de um ônibus rumo ao centro da cidade onde morava. A única passageira. Intenso mal-estar o trajeto inteiro; a cada parada, um susto.

MCC Pazzola