Correr na direção do vento.
Acordei assim meio desorientada, com vontade de não fazer coisa nenhuma,como naquela música “Quero uma rede preguiçosa prá deitar, em minha volta sinfonia de pardais, cantando para a majestade o sabiá.”
Acontece que nem tenho rede, nem varanda, e passarinho aqui na cidade é coisa rara.Falta também o tempo!Tanta gente em volta de mim precisando de atenção :marido, mãe, filhos e neta.Faz muito tempo que nem sei o que é ser eu mesma , sem estar dividida.Será que tenho uma vida?. E que minha vida é minha? Não pedi para vir ao mundo mas aqui estou!Eu existo!. Estou viva e posso fazer da vida o que eu bem entender!Posso sorrir, posso chorar, trabalhar ou ficar sem fazer nada. Posso torcer pro time que quiser, ouvir a música que eu quiser, pensar em quem eu quiser,ir onde quiser.
Porque sou uma pessoa, tenho direitos. Pernas que andam e um corpo que funciona “quase” em perfeito estado
Posso argumentar, criticar, elogiar, posso observar, ficar calada.Posso chutar tudo pro alto e dizer a cada um , como me sinto o que acho de cada um deles em respeito a mim.
Talvez eu devesse. Porque os dias passam, agosto acabou e 2009 está em direção ao fim, chamando o final da primeira década do século XXI.
E a gente esquece que é DONA, DONO da própria vida. E que se, amanhã, você decidir fazer um curso de aramaico, raspar careca e começar a correr, não é da conta de ninguém. Ninguém. Nem mãe, pai, irmã, mulher, marido,chefe, vizinho.
Você vai vivendo conforme os parâmetros da sociedade e vai se transformando, vai envelhecendo e ficando chata!Vai se apequenando, se acanhando e, como ovelha, vai obedecendo, obedecendo, até perder a personalidade . Um belo dia, como no livro do Leonardo Boff, você que nasceu águia percebe que virou uma galinha tonta. Tonta e obediente. Sem energia para contestar, a gente vira um cavalinho bobo de carrossel, um passarinho de relógio cuco que de hora em hora sai pela portinha por breves segundos e volta para seu ostracismo.
Preciso mostrar para todo mundo que não preciso provar nada pra ninguém, acordei com um desejo estranho: sair andando como Forrest Gump, “largar as muletas” e correr atrás daquela peninha do filme até achar a direção certa!