Com a melancia no pescoço

Na London School of English, meu professor de gramática era Mister Bindon, que já fora ator de teatro e adorava fazer palhaçadas. A turma era pequena, ficávamos todos sentados em volta de uma mesa, ele à cabeceira.

Um dia, explicou-nos o funcionamento do modo condicional, dando vários exemplos. Depois pediu que inventássemos frases usando a correta combinação de verbos. Deveríamos também usar o vizinho como personagem. Para facilitar, ele mesmo começou: “se eu fosse fulano...“ e foi rodeando a mesa, perguntando de um em um.

Chegada a minha vez, eu disse que se fosse o Manabu, meu vizinho japonês, iria de kimono para a escola. Mr. Bindon riu muito só de imaginar Manabu em kimono, ainda mais no chuvoso inverno londrino. O japonês fingiu que não gostou, mas como era bastante aparecido (ao contrário dos “nossos” japoneses) acho que chegou mesmo a pensar em tal possibilidade.

Na rodada seguinte eu já não sabia mais o que fazer se fosse Manabu. Acabei dizendo que se fosse ele, penduraria uma melancia no pescoço. O japonês ficou me olhando com cara de interrogação, mas o professor quase caiu da cadeira de tanto gargalhar. Percebi que ele imaginava direitinho Manabu vestido de kimono, com a melancia enterrada no pescoço!

Depois disto, mister Bindon não parava de dizer que eu era uma “young lady” muito criativa. Diante da classe também admirada com minha “criatividade”, achei melhor não explicar nada. Preferi ficar com os louros da glória...

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(1994)