Um dia, uma noite... Paris

Ela caminhava sozinha e eu somente a observava. Em meio ao brilho da Cidade Luz, seu sorriso conseguia destacar-se e sobrepor-se ainda mais reluzente do que qualquer ideologia iluminista. Um dia somente, não conseguiria comportar tamanha satisfação em conhecer a cidade e ver-se nela refletida.

Havia levantado cedo e tomado café às pressas, como que para reter entre os dedos os minutos que escapavam. Agora estava ali... ligada à cidade, como um casal que dança ritmado a mesma música contagiante e infinita a girar no salão, repetindo os mesmos passos ensaiados.

Ela não notou a minha presença em nenhum momento, enquanto eu a seguia e me deixava levar pelo rastro iluminado dos seus olhos, enquanto caminhava e cantarolava aproveitando a temperatura amena daquele dia ensolarado e envolto em luz às margens do Rio Sena.

Desta forma, ela passou várias vezes, viu-se refletida nas águas parisienses, caminhou ainda mais, observou as pedras que a fizeram parar novamente e refletir sobre a beleza de algo tão duro, ou a dureza de algo tão belo, e assim, perdeu-se por alguns instantes em seus próprios pensamentos.

Assim, a tarde caía. E ela? Não sentia falta de nada. Estava completa. O que comia, era qualquer coisa que lhe davam, ali mesmo, a andar como que explorando cada grão de areia, como se nada devesse passar despercebido aos seus olhos, mas o que a alimentava, era a luz, desta vez a luz elétrica que aparecia com a chegada da noite.

Na porta de cada museu ela passava os dedos... Tenho certeza que queria sentir o que estava dentro, já que não podia entrar. Quando deu por si, já era noite e ela estava ali, frente à Torre Eiffel sentada e extasiada como se tivessem passado apenas alguns minutos.

Foi só aí que ouviu a voz insistente da mãe chamando- a para dormir. – você tem aula amanha cedo menina! Já pra cama! Ao olhar em volta e ver a velha mãe de chinelo na mão, levantou-se. Era ainda seu pobre casebre, sua aula de história na manha seguinte, sua dura realidade a acorda-la e tinta. Toda a cor ainda estava ali. E Paris? Ela terá a possibilidade de vive-la novamente sempre que quiser brincar com sua maquete. Afinal, após a aula de amanha, ela será sua, toda iluminada, trazendo aos pequenos olhos, a Paris tão próxima das mãos e dos suspiros. Agora, o velho cobertor, a boneca empoeirada e cama. Ao fechar os olhos, Paris ainda estará lá.