Sonhar

Todo mundo sonha, ou pelo menos é o que dizem. E os sonhos que temos são dos mais variados.

Muita gente sonha com coisas sem sentido, coisas bizarras, como alienígenas comedores de carne que vêm à Terra para roubar nossos dedos mínimos. Outras pessoas sonham com coisas normais, como aparecer nu em algum lugar público, tentar correr e não conseguir. Enfim, essas bobagens que todos já vivenciaram enquanto dormindo.

Mas bem, existe um tipo de sonho, em especial, que eu considero único. Não estou falando de sonhos premonitórios nem aqueles sonhos “molhados” ou outras baboseiras do gênero.

O sonho que eu considero especial é daqueles que deixa mais do que uma lembrança que evapora ao abrirmos os olhos pela manhã. Uma experiência que nos parece real, que nos faz reagir com todos os sentidos, que reproduz sons, cheiros, aspectos que um sonho normal não aborda.

Um acontecimento que fica gravado na sua mente, mesmo depois de você acordar. Que quando você acorda, te dá aquela pontinha de tristeza, por descobrir que é apenas uma ilusão da sua mente, mas que ainda assim te deixa com aquela sensação de aconchego, te faz se encolher na cama, abraçar o travesseiro e sorrir, mesmo que tolamente.

Este sonho do qual estou falando, é algo que acontece pouquíssimas vezes em nossas vidas, muitos sequer chegam a experimentar tal sensação. E é uma sensação tão boa, que chega a ser triste saber que alguém nunca a sentiu.

Porém, o que martela a minha mente é o porquê destes sonhos.

É engraçado que juntamente com um sonho desses, me vem uma sensação de esclarecimento, me acontece uma revelação. Eu acabo percebendo que minha mente estava bloqueada para alguma resposta que há muito eu vinha procurando. E é estranho que durante esse sonho, eu perceba o caminho desvelando-se diante de mim. É como se a minha mente precisasse criar um pequeno filme educativo para me dar aquela lição que eu necessitava.

Isso não é tão estranho. Muitas vezes nós temos os chamados “brancos”, quando, por exemplo, nós sabemos toda a matéria que cairá naquela prova de Física mas mesmo assim esquecemos todas as respostas. Então, esses sonhos nada mais seriam do que uma forma da consciência combater os buracos no nosso pensamento. O nosso subconsciente nos mostrando um fato que nos havia escapado, escondendo-se numa curva obscura de nossa própria mente.

Mas, o que me intriga é isso: Se nós temos a resposta, por que não conseguimos encontrá-la facilmente? Por que é que nós sabotamos a nós mesmos e tentamos ocultar alguma verdade que seria importante? E eis que, justamente um sonho desses, acabou me mostrando a resposta.

Algumas vezes em nossa vida, nós entramos em um estágio de estagnação do qual nos parece impossível sair. E para que continuemos a evoluir, é necessário mudar. Só que, como todo mundo sabe, mudar significa enfrentar algo novo. E tudo o que é novo, assusta.

Nós sabemos que precisamos mudar, que devemos encontrar um novo caminho, tomar uma decisão contraditória e nada fácil. Mas, ao mesmo tempo, nós temos medo dessa mudança. E aí, provavelmente, alguma coisa dentro da nossa cabeça sente o perigo eminente e resolve que seria melhor bloquear essa decisão. Funciona como um sistema imunológico dos sentimentos: alguma coisa dentro de nós percebe que aquela decisão que estamos planejando poderá causar algum mal e passa a tratá-la como uma ameaça. E daí, nós a bloqueamos.

Quem nunca passou por isso? Você sabia que precisava terminar aquele relacionamento, por exemplo, mas então, sempre que matutava sobre a questão, vinham a sua cabeça milhares de razões tornando a decisão inviável. Na concepção do seu subconsciente, aquela escolha era ruim. Por isso o bloqueio.

Só que, como todos sabemos, o caminho certo nem sempre é o mais simples...

Muitas vezes, mesmo que nós queiramos nos defender, ficar na estagnação, na segurança de uma vida rotineira e sem mudanças, é necessário que haja uma mudança. Nós temos que evoluir, ir adiante, continuar andando.

E é aí que entram os sonhos reveladores. Eles são como um grito de socorro da nossa mente. Ela nos revela algo que nós tentamos suprimir. E mostra como é necessário que tomemos uma atitude.

Quer dizer, muitas vezes nós estamos com tudo nas mãos e não notamos. E daí, é preciso uma intervenção divina, ou no caso, mental, para que possamos ver que tudo está ali, só falta agir. Ou seja, isso é só mais uma prova da incrível capacidade do ser humano de complicar coisas simples e tornar impossível as originalmente complicadas... É, nada como um pouco de desafio...