Dona Totonha
“Dona Maria, minha mãe está lhe chamando lá no hospital.” Apreensiva perguntei: Como assim Milli? “ É que parece que a velha Totonha tá passando dessa pra outra.”Mandei que ela voltasse pra casa que assim que eu pudesse iria lá. Cuidei da janta, pedi desculpas a visita e sai apressada até o hospital. Lá chegando pedi licença para entrar e me deparei com um quadro triste.
A velha inconsciente e já com o ‘ronco da morte’, coração acelerado, os olhos com aquele aspecto de ‘grudação ‘que vemos nos defuntos. Pedi informação a sua sobrinha e fiquei chocada com a resposta que recebi:
_ Trouxe a velha Totonha para uma consulta. Ela veio andando, estava comendo pouco, mas comia. O médico colocou um soro e ela caiu estrebuchando, e deu no que a senhora está vendo aí.
_Mas Maria que coisa tão terrível? Você já avisou aos filhos dela?Perguntei comovida e horrorizada com o que eu estava vendo.
_Sim, já avisei ao meu pessoal, já devem está chegando.
E chegaram mesmo. Tio, sobrinhos, irmã... Cada um entrava e saia certos do desenlace. Por fim ficaram: um tio, a Maria e eu. Percebemos que os roncos pararam. Mesmo os olhos fechados, começaram a mover-se. E a Maria começou a sorrir.
_ Será que a Totonha não vai dessa vez? Perguntou esperançosa.
_ Acredito que não, Maria. Vamos trocá-la que ela está toda xixada.
Colocamos mão a obra e o trabalho em equipe rendeu. A velha Totonha percebendo que estávamos tirando suas roupas abriu os olhos e começou a lutar contra àquelas pessoas que estavam mostrando sua nudez. Tranqüilizamos aquela velhinha tão frágil, e logo ela estava sossegada entre os lençóis esperando que trouxessem uma muda de roupa.
Totonha continua internada, mas não deverá partir agora. O que aconteceu é que um médico - desses que estudam em universidades que não preparam profissionais compromissados com a vida – receitou um medicamento errado, e por pouco, a boa velhinha seria um número nas estatísticas de mais um erro médico.