SER IDOSO NO BRASIL...

Republicação

A campanha da fraternidade de 2003 abordou o Tema Fraternidade e pessoas idosas, no sentido de chamar a atenção dos fiéis católicos e de toda sociedade a respeito do direito à vida, à dignidade e esperança aos que atingem a 3ª idade.

Na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, houve uma Missa solene que relembrou todas as Campanhas patrocinadas pela CNBB desde 1964 até os dias atuais, dando enfoque especial ao objetivo da Campanha de 2003, que era conscientizar as pessoas no sentido de entender que os idosos são seres humanos dotados de inteligência e sentimento.

A programação da Missa foi toda voltada em torno dos problemas vivenciados pelos idosos. O seminarista responsável pelos comentários da abertura da Campanha em nossa paróquia ressaltou que nos últimos anos, com a evolução da ciência, a expectativa de vida aumentou bastante, sendo um fato positivo, entretanto, não houve investimento na qualidade de vida das pessoas idosas. Disse ainda, que o sistema econômico brasileiro está voltado para consumo por isso, necessita cada dia maior eficiência e produtividade.

A própria evolução tecnológica tem um viés excludente, por tratar as pessoas mais experientes como incapazes de produzirem e, assim, fecha os espaços para os mais velhos e busca trabalhadores jovens dispostos a se adaptarem às novas ferramentas e metodologias trabalho.

A campanha de 2003 veio desnudar a hipocrisia velada em relação aos valores humanos.

O consumo pelo consumo da sociedade está brutalizando a humanidade quando incentiva ao individuo provar sua eficiência e capacidade de competição para superar até suas limitações a qualquer custo.

O que se vê, principalmente no Brasil, é total desrespeito à pessoa.

O fato de se alcançar a melhor idade, não significa perder a condição humana e sua dignidade. Pelo contrário, existe um legado construído pelas vivências de cada homem e mulher que atingem uma longevidade razoável e este legado deve ser ponderado e considerado pela sociedade.

A qualidade de vida é um direito inalienável extensivo a todos, independentemente do credo, raça, origem ou idade.

O idoso, como lembrou a campanha, tem direito à vida, dignidade e esperança; afinal, ele trabalhou tantos anos para construir uma sociedade onde possa existir um mínimo de igualdade.

Ser idoso não deveria ser sinônimo de estorvo e de inutilidade e sim o exemplo de caminhada vitoriosa, deveria ser um tempo de usufruir o que construiu ao longo do percurso da vida, para viver com mais intensidade.

A inversão de valores, cultivada pela sociedade ao longo das décadas, está apresentando seus frutos de maneira trágica porque não existe um compromisso com o desenvolvimento humano.

Todo investimento no social demora apresentar os resultados práticos. Além disso, a corrupção, o desvio de verbas públicas, o crime do colarinho branco e a cultura de se atribuir responsabilidade das ações sociais apenas ao governo contribuíram para o agravamento das políticas que incentivam a promoção do ser humano.

A questão do idoso no Brasil é tão ou mais grave que discriminação sofrida pelas mulheres e a falta de investimento na infância brasileira. Uma sociedade que não pensa em suas crianças e seus idosos, precisa repensar seus valores.

A longevidade deveria ser um sinal de bênção e não castigo. Não é uma doença contagiosa e sim um estágio de vida; se não houver mudanças na maneira como tratamos os nossos semelhantes mais experientes, haveremos de ser tratados do mesmo modo no futuro.

Em função desses aspectos, precisamos ouvir o clamor daqueles que estão sofrendo por causa de nossa insensibilidade. Não basta colocar os idosos em lugar isolado como asilos, é necessário restabelecer-lhes a dignidade de ser humano e conceder-lhes o direito à vida em plenitude.

O Ancião tem muito para contribuir com a sociedade e para isso, basta que ele tenha a liberdade de participar efetivamente do processo de produção. O idoso não precisa de piedade e sim de respeito e oportunidade de viver com dignidade e esperança.