MINHA ESTRANHA LOUCURA

Voltando para casa, numa noite dessas, deparei-me com uma cena inusitada: um homem nu! Um homem nu andava no meio da rua, com a postura ereta, com uma empáfia dificilmente encontrada em um vestido! Um homem nu! Não, não é o do Sabino! Era um simples homem nu, andando pelas ruas do meu bairro.

Pensei: será que fizeram uma aposta para ver quem tinha a coragem de desvencilhar-se de suas roupas, andar sem temor na frente de todos e aí ganharia uma grade de cerveja? Já que tinha um boteco perto, foi a primeira coisa que me veio à cabeça.

O que mais me chamou a atenção foi realmente a postura do camarada. Parecia não temer nada, o “mico” a que estava se submetendo, nem a presença ameaçadora de moradores atentos a qualquer anormalidade nas imediações de sua casa. Ele estava de cabeça erguida, passos largos e seguros. Parecia nada temer.

Achei aquela cena muito interessante. Primeiro, porque adoro situações que me tiram da rotina monótona de todos os dias. (Não se assustem, gramatiqueiros de plantão! A intenção foi mesmo de dizer que essa rotina é pleonasticamente redundante!). Segundo, porque ele caminhava muito tranquilamente pela rua; isso sim, me intrigou.

Não me contive de curiosidade até saber quem era aquele homem e por que ele estava nu. Na minha concepção, a liberdade se mostrava presente ali, na frente de todos, sem amarras, sem pudores, só a vontade de ser livre! Se era uma aposta, que barato seria! Alguém com uma idéia louca de fazer ruborizar faces distintas e moralistas estava ali, nu, andando pela rua!

No início, até que não acreditei, de longe, no meu carro, vi o homem e pensei que estava vestido de marrom! “Que povo estranho, vestir-se de marrom! Não notam que parece estarem sem roupa? E estava!!! Só pude ter a certeza quando dois adolescentes gritaram “porr.. caral...!!! O cara tá peladooo!”Aí, sorri! Lógico! Que barato! Um homem nu no meu bairro!

Decepcionei-me quando, mais tarde, pude saber quem era o sujeito da ação. Pouco depois de tê-lo visto, ele continuou sua caminhada e, mais adiante, subiu em um carro e estragou tudo: pulando, esmurrando, gritando, chamou mais ainda a atenção e tiveram que chamar a polícia. Até esta chegar, foi imobilizado por um grandalhão vestido. Era um louco!

Era um louco o camarada! Por que só os loucos têm permissão de fazer loucuras? Por que só os loucos têm coragem de fazer loucuras? Por que só eles podem quebrar a rotina das pessoas, fazê-las sorrir ou irar com suas atitudes débeis?

O mundo deveria ter mais loucos! O mundo deveria permitir mais loucuras! As pessoas deveriam se permitir quebrar algumas regras, desvencilhar-se de amarras e decretos que as impedem de sorrir, um discreto sorriso que seja, por ver que nem tudo tem que ser o que parece todo dia.

Um homem nu, nas ruas do meu bairro, me fez pensar que vale a pena inovar, a cada dia, pensamentos, atitudes, olhares e desejos. Um homem nu, com a postura ereta, olhar fixo à frente, com uma dignidade de rei, sem se importar com nada nem ninguém, me fez crer que a vida só vale a pena se for bem gozada, bem engraçada, bem vivida, cheia de novidade a cada dia!! A gente aprende até com os loucos!