MIGUELÃO E MANOELZIM

Itamaury Teles

A quem interessar possa, informo ser possuidor de um buritizal. Aliás, para não exagerar tanto, ganhei duas mudas de buriti, uma palmácea cantada e decantada pelo escritor João Guimarães Rosa em seus livros, que falam do nosso sertão e suas veredas, e encantam o mundo, com sua literatura mágica.

Depois de um apelo dramático – segundo definiu o leitor e amigo José Geraldo Marques – eis que comprovei a força e a penetração do Jornal de Notícias, que ajudou-me a prestar essa homenagem ao ilustre cordisburguense.

Primeiro, com a grande quantidade de leitores, indagando-me se já havia conseguido a tão propalada muda da palmeira buriti. Segundo, pelo interesse demonstrado por outros tantos em ir comigo até locais certos onde já poderia voltar sobraçando alguns exemplares dessa palmeira característica das nossas úmidas veredas.

E foi justamente nesse ambiente de camaradagem que o Denarte Dávila encontrou-se comigo, no Café Galo, dando-me os telefones do Dr. Geraldo Mariano, de Várzea da Palma. Ele lera minha crônica e protificou-se a mandar-me a muda de buriti, tão rara nesta terra dos Montes Claros.

Contatei o possível doador e ele, solícito, quis saber se eu queria mesmo a muda ou se estava apenas brincando. Ratifiquei o meu querer e a minha vontade de homenagear o João Guimarães Rosa no jardim da minha casa, em Montes Claros. E, para minha grata satisfação, ficou de mandar-me não uma muda, mas duas.

De prosa amena e interessante, o Dr. Geraldo Mariano revelou ser meu leitor de há muito, e que lera o meu “Urubu de Gravata”, por empréstimo do seu cunhado e meu fraternal amigo, Gérson Duarte, economista em Belo Horizonte.

No sábado passado, as tão esperadas mudas de buriti chegaram às minhas mãos, trazidas pelo próprio Gérson, que passara por Várzea da Palma, desviando do lento tráfego da Br-135. Com elas, dois livros para eu ler, por empréstimo: o raro e de tiragem limitadíssima “Por cima dos telhados, por baixo dos arvoredos”, do nosso amigo comum Luiz de Paula Ferreira; e “Pirapora: um porto na História de Minas”, escrito a três mãos, por Brenno Álvares da Silva, Domingos Diniz e Ivan Passos Bandeira da Mota.

Em retribuição à gentileza do Dr. Geraldo Mariano, conforme promessa pública, autografei para ele – que também levanta templos às virtudes e cava masmorras aos vícios – os meus dois livros de crônicas: “Urubu de Gravata” e “Noturno para o Sertão”.

Os dois buritis já foram devidamente transplantados. Fiz questão de fazer todo o trabalho sozinho, empunhando enxadão e demais petrechos do aprendiz de jardineiro que estou me transformando.

Ocorreu-me de batizá-los com dois nomes roseanos: Manuelzão e Miguelim. Mas, como são espécies que podem chegar de 3 a 35 metros, os nomes podem ficar inapropriados, dependendo do desenvolvimento de cada muda. Assim, Miguilim pode ter o nome alterado para Miguelão e o empinado Manuelzão, de longas barbas brancas, pode virar um exótico Manoelzim. O tempo dirá.

Se novas mudas aportarem a minha casa, já terei destino para elas: farão parte da minha pequena fazenda em Porteirinha, e serão plantadas numa área mesopotâmica, entre um córrego intermitente – que será denominado, doravante, de Buritis - e o perene Rio Mosquito, que banha nosso minifúndio rural.

É ali que pretendo construir uma pequena casa de campo, para balangar rede e me inspirar para novas empreitadas literárias, contemplando meu buritizal...

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Itamaury Teles
Enviado por Itamaury Teles em 12/09/2009
Código do texto: T1807100
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