PAPÉIS TROCADOS (ou, inversão de valores)
FOTO DE ARNALDO AGRIA HUSS
Definitivamente, estamos vivendo numa era onde a já tão comentada inversão de valores encontra-se cada vez mais em alta. Pedro Bial disse certa ocasião que os participantes do Big Brother Brasil eram verdadeiros heróis. Muitos acharam um absurdo tal declaração (inclusive eu), uma vez que o termo “herói” é sempre associado a alguém notável por sua coragem, feitos incríveis, generosidade e altruísmo (heróis de guerra, por exemplo). O que, efetivamente, não é o caso dos participantes do referido programa. Mas os dicionários também definem o herói como aquele que, por algum motivo, desperta grande admiração e que, por bons ou maus motivos, atrai as atenções. Nesse contexto, portanto, justifica-se o que disse o Pedro Bial, um bom repórter a serviço da mediocridade. Mas, mesmo que se justifique, prefiro ter comigo que o símbolo do verdadeiro herói ainda são os bombeiros.
E essa inversão de valores nos persegue em diversos segmentos da vida. Cientistas de renome são obrigados a deixar este país em busca de remuneração digna enquanto jogadores de futebol e artistas medíocres ganham fortunas. Médicos e professores são obrigados a ter vários empregos para manter o seu sustento enquanto políticos roubam descaradamente na frente da nossa própria justiça, possuem a tal imunidade parlamentar e ainda têm direito a gorda aposentadoria com poucos anos de mandato. INSS? Ora, ora, isso é apenas para nós, os idiotas.
São tantos os exemplos que, se fosse enumerá-los todos aqui, esta crônica sairia mais como uma espécie de tratado.
O que me chama também a atenção é a preocupação excessiva com o meio ambiente e com os próprios animais, enquanto os seres humanos estão aí, largados na vida, com uma saúde precaríssima, sofrendo de doenças que há muito tempo deveriam estar erradicadas.
Não admito, por exemplo, que seja dispensada uma preocupação maior a uma baleia do que a um ser humano. Vejo também como inadmissível o impedimento pelo Ministério Público do progresso de determinada região simplesmente pelo fato de ter que se derrubar uma árvore, o que caracteriza crime ambiental. Passe pela infeliz experiência de atropelar qualquer animal numa estradinha do interior. Se for flagrado, você vai ter grandes chances de ser preso, ao passo que se atropelar um ser humano e até matá-lo, se você for réu primário, vai responder ao processo em liberdade.
Carrego comigo uma vontade imensa de entrar na casa de um natureba desses, que defende as árvores e se preocupa com os desmatamentos (mas não com os índios), e verificar se lá dentro não existe nada feito em madeira (mesmo que seja madeira dita, legal). Eu juro que, se encontrasse algo assim, divulgaria para o mundo.
São hipocrisias e absurdos dessa espécie que levaram Joelmir Beting a declarar recentemente:
“Este ainda é um país onde as pessoas ficam mais indignadas com árvores derrubadas do que com crianças contaminadas”, numa alusão às constantes enchentes que ocorrem neste país e que, sabidamente, contaminam nossos mananciais, sem que haja uma preocupação maior por parte de nossas autoridades.
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FOTO DE ARNALDO AGRIA HUSS
Definitivamente, estamos vivendo numa era onde a já tão comentada inversão de valores encontra-se cada vez mais em alta. Pedro Bial disse certa ocasião que os participantes do Big Brother Brasil eram verdadeiros heróis. Muitos acharam um absurdo tal declaração (inclusive eu), uma vez que o termo “herói” é sempre associado a alguém notável por sua coragem, feitos incríveis, generosidade e altruísmo (heróis de guerra, por exemplo). O que, efetivamente, não é o caso dos participantes do referido programa. Mas os dicionários também definem o herói como aquele que, por algum motivo, desperta grande admiração e que, por bons ou maus motivos, atrai as atenções. Nesse contexto, portanto, justifica-se o que disse o Pedro Bial, um bom repórter a serviço da mediocridade. Mas, mesmo que se justifique, prefiro ter comigo que o símbolo do verdadeiro herói ainda são os bombeiros.
E essa inversão de valores nos persegue em diversos segmentos da vida. Cientistas de renome são obrigados a deixar este país em busca de remuneração digna enquanto jogadores de futebol e artistas medíocres ganham fortunas. Médicos e professores são obrigados a ter vários empregos para manter o seu sustento enquanto políticos roubam descaradamente na frente da nossa própria justiça, possuem a tal imunidade parlamentar e ainda têm direito a gorda aposentadoria com poucos anos de mandato. INSS? Ora, ora, isso é apenas para nós, os idiotas.
São tantos os exemplos que, se fosse enumerá-los todos aqui, esta crônica sairia mais como uma espécie de tratado.
O que me chama também a atenção é a preocupação excessiva com o meio ambiente e com os próprios animais, enquanto os seres humanos estão aí, largados na vida, com uma saúde precaríssima, sofrendo de doenças que há muito tempo deveriam estar erradicadas.
Não admito, por exemplo, que seja dispensada uma preocupação maior a uma baleia do que a um ser humano. Vejo também como inadmissível o impedimento pelo Ministério Público do progresso de determinada região simplesmente pelo fato de ter que se derrubar uma árvore, o que caracteriza crime ambiental. Passe pela infeliz experiência de atropelar qualquer animal numa estradinha do interior. Se for flagrado, você vai ter grandes chances de ser preso, ao passo que se atropelar um ser humano e até matá-lo, se você for réu primário, vai responder ao processo em liberdade.
Carrego comigo uma vontade imensa de entrar na casa de um natureba desses, que defende as árvores e se preocupa com os desmatamentos (mas não com os índios), e verificar se lá dentro não existe nada feito em madeira (mesmo que seja madeira dita, legal). Eu juro que, se encontrasse algo assim, divulgaria para o mundo.
São hipocrisias e absurdos dessa espécie que levaram Joelmir Beting a declarar recentemente:
“Este ainda é um país onde as pessoas ficam mais indignadas com árvores derrubadas do que com crianças contaminadas”, numa alusão às constantes enchentes que ocorrem neste país e que, sabidamente, contaminam nossos mananciais, sem que haja uma preocupação maior por parte de nossas autoridades.
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