Autoflagelamento.
Cada vez fico mais convencido de que o ser humano é por natureza um suicida. Senão vejamos, as substancias que mais nos dão prazer são extremamente danosas (tabaco, bebidas alcoólicas, drogas etc.), os alimentos mais almejados (frituras, doces, carne gorda etc.) são também danosos à saúde. Porem o consumo de tudo isso só faz crescer cada vez mais vertiginosamente.
Vejamos o caso mais especifico de um agricultor que encontrei numa destas madrugadas na fila de um posto de saúde. Enquanto aguardávamos foram vários cigarros. Quando o assunto do tabagismo veio à baila entrou numa invectiva furiosa em defesa do tão amado veneno de forma tão veemente que o melhor foi calar para não correr o risco de ser agredido.
Outro caso, uma vizinha, senhora de idade e diabética, que se recusava á qualquer forma de controle alimentar, alegando que o medico deveria lhe dar um remédio que curasse sua doença e não recomendar um regime de reeducação. Não teimou porem por muito tempo, sem demora veio a óbito e não tem agora mais necessidade nem de remédio, tampouco de alimentação.
E eu poderia elencar, dentro e fora do citado, varias citações de comportamentos indubitavelmente mortíferos e degradantes. Podem ter certeza que cada um de nos comete pelo menos uma dúzia deles: trabalhar ou estudar alem dos limites do corpo e da mente causando grandes problemas com stress e esgotamento físico; sedentarismo excessivo; falta de tempo para um lazer de qualidade; ausência de ginástica mental (livros não são tão caros que não possam ser adquiridos e as Bibliotecas Publicas estão ai a disposição de todos, opções de leitura com qualidade não faltam); descaso com o meio ambiente( principalmente aquele mais próximo de onde vivemos), e por ai vai. Faltaria espaço para citarmos uma lista um pouco mais completa.
O descaso ambiental é também uma de nossas formas de autoflagelação que merece ser especialmente comentada. Por mais campanhas que se façam, às ruas, as margens de rios e riachos e até o quintal das próprias casas vivem entulhadas de lixo descartado inadequadamente.
Então, não estou certo ao dizer que cada um de nós possui um pouquinho ao menos desta letárgica tendência de flerte com o sofrimento e com a obliteração?
Ou, quem sabe, o masoquismo seja o mal deste nosso século. Enfim, infelizmente a estultice humana parece ser congênita e sem remédio.