Perto do mar
Estavam sentados num banco de madeira, local pouco escuro, o que permitia beijos e carinhos mais audaciosos. O clube náutico era conhecido.
- E agora?
- Agora é arranjar uma solução que não liquide com a gente.
- Como vou dizer a ele?
- Dizendo, ora. Ele vai saber logo. É médico.
- Mas eu não quero perder você!
- Não vai me perder. Nem depois de morto.
- Do jeito que você fala, tudo parece muito simples.
- E não é? Onde está a dificuldade?
- A dificuldade, querido, é que nem você é todo meu, nem eu toda sua.
- Vamos ser sempre um do outro.
- Como? Eu não tenho você, não é o meu homem.
- Não sou teu homem? E este neném na sua barriga?
- Não fala!
- Por que deixar de falar numa coisa dessas? É nosso.
- Por isso mesmo. É nosso e você não vai ser o pai dele...
- Eu sou o pai dele. Mais cedo, mais tarde, todos vão saber.
- É, todos. Meu marido, sua mulher, meus pais. Sou a puta da vez.
- Puta? Acaso tem outros homens?
- Tenho você!
- E seu marido...
- Meu amor é você. Está cansado de saber disso.
Um logo beijo juntou os corpos que se amavam. Era linda, lábios carnudos, boca bem feita, olhos penetrantes, cabelos dourados. Ficara grávida no primeiro encontro. No momento, sentia os seios dela contra o seu peito, sua pele macia, segurava a cintura bem moldada.
Era preciso ir embora. Ela não podia chegar tarde em casa, embora o marido estivesse trabalhando.
Ele, porque afinal não se leva tanto tempo assim preparando um veleiro para sair no dia seguinte.
Tem muitas coisas que desagradam. Uma delas é esta situação, que para eles, um dia teria fim. Viveriam juntos. Conversariam sem olhar o relógio, bebendo um vinho, trocando carícias, vivendo o sexo.
Sonhos. Sonhos e amor. Impossível viver sem eles.