Vida pra lá de boa...
Vida pra lá de boa...
O povo ribeirinho aqui da minha terra vive mesmo uma vida das “boas”. Falo tanto dos que moram atravessando um Rio (Guamá) bem em Frente à Belém (Ilhas do Combu), como dos que habitam a grandiosa Ilha do Marajó. To cá para falar do lado bom, porque sabemos todos, as dificuldades são muitas. Mas há um enorme desafio a ser suplantado, cultural, social, político e educacional. Mas enquanto isso vamos lá as boas...
Nas ilhas que circundam Belém, a vida é muito simples, pescar, apanhar Açaí, recolher da natureza os benefícios, a cidade e sua urbanização muitos só conhecem da televisão (diversos tem um antena parabólica que os conectam ao resto do mundo), ou quando: vão a Belém para visitar um médico, acompanhar o Círio de Nazaré, assistir um jogo dos times tradicionais (entenda-se, quando estão em condições competitivas mais atraentes). No mais é: pescar, comer, descansar...,...
Diria contemplar...
O Povo do Marajó em algumas regiões permite-se pescas em longas jornadas mais mar adentro e alguma cultura de subsistência, catar Caranguejo, pegar camarão, e outras atividades mais tradicionais da ilha (trabalhar na pecuária), mas no geral, pescam, colhem açaí (alimento tradicional), e levam uma vida simples, sem muito estresse ou afetação. Sem contar que as paisagens, cenários que desfrutam, são incomparáveis...
O caboclo daqui é feliz.
Um poeta do Amapá (estado vizinho) compôs sabiamente uma música Chamada “Vida Boa”, que se aplica a realidade da região, muito semelhante.
Diz mais ou menos assim:
“... A vida daqui é assim devagar
Precisa mais nada não pra atrapalhar
Basta o céu, o sol, o rio e o ar.
E um pirão de açaí com tamuatá.
Que vida boa su mano
Nós não tem nem que fazer planos
E assim vão passando os anos eita!
Que vida boa
Que vida boa su primo
Nós só tem que fazer menino
E assim vão passando os anos eita
Que vida boa...”
Quer coisa melhor?
Ainda vou mais longe, onde minha imaginação permitir e digo que as Estrofes do HINO NACIONAL abaixo, bem se aplicam a essa realidade:
“... DEITADO ETERNAMENTE EM BERÇO ESPLÊNDIDO”- (deitado na nossa gostosa Rede, parte do ritual, depois da ingestão do Açaí, o processo de digestão que chamamos JIBOIAR é melhor numa redinha).
“... AO SOM DO MAR E À LUZ DO CÉU PROFUNDO...” - (parte da contemplação pode ser ao som do mar ou ao som do Rio-Mar, comum aqui, e são lindos Rios, e o céu de um azul intenso...).
Perfeito.
GLOSSÁRIO:
Guamá - significado indígena: Rio que Chove; um dos principais Rios do estado.
Pirão – Farinha de mandioca escaldada, de grossa consistência, no caso Pirão de Açaí, é uma grande quantidade de ferinha de mandioca colocada no açaí, que confere uma dura consistência.
Tamuatá ou Tamatá - Pequeno peixe da região revestido de uma capa dura, cinzenta retirada na hora da degustação. Em razão dessa peculiaridade também o chamamos de “Soldado”. Particularmente saboroso, mas possui um grande número de pequenas e finas espinhas. E extremamente Pitiú, as pessoa costumam comer no quintal em face de isso.
Pitiú – Cheiro forte de mar ou maresia.
Su mano e Su primo – forma popular e habitual que o caboclo refere-se a um amigo, companheiro, que seria Seu mano ou Seu primo.
Jiboiar – estado de repouso para digestão de uma pesada e farta refeição.
Ilha do Combú – Área de proteção ambiental em frente à Belém, onde O açaí é a espécie vegetal mais abundante, sendo o principal produto extrativista e chegando a ser 70% da população arbórea. Tem açaí o ano todo e pra todo mundo.
OBS: Produzido para participar de um desafio sobre o Hino Nacional,este foi o segundo texto.O primeiro é o que foi publicado no Encanto das Letras.