QUE VENHA O NATAL

Quando eu era pequena, exceto quando mamãe ficava muito triste com a ausência do papai, o Natal era uma época mágica. A vizinhança mudava de cheiro já no inicio de Dezembro, meus olhos brilhavam, havia uma expectativa gostosa no ar! Eu fui crescendo e mesmo assim continuava a sentir aquele cheiro. Cheiro de Natal que além de mim só mais uma pessoa conhecia conseguia sentir... A Gláucia.

Apesar das intercorrencias que a vida nos submete, o Natal continuava mágico (uma vez que eu continuava a sentir o cheiro). Meus olhos continuavam a brilhar, não por mim, e sim por minha mãe. Ela sempre valorizou essas datas. Mesa farta, família reunida, sorrisos, união... Sendo assim, mesmo já não morando na mesma casa e com a família reduzida. Continuamos a nos reunir e éramos felizes. Sempre havia pessoas a mais, um primo ou amigo que ela adotava como filho. Sempre tinha alguma criança pra gente presentear.

Os anos continuaram passando e a vida mudando com o passar do tempo. Eu me tornei mãe e ainda sem me dar conta do que acontecia em mim, continuei as comemorações natalinas com entusiasmo e ansiedade feliz. Não mais por minha mãe, pois ela já havia partido. Fazia por minhas filhas! Temos lembranças lindas e preciosas. Jantares na varanda à luz de velas, pacotes bonitos sob a árvore de Natal, laços dourados, papeis verde, vermelhos... Às vezes embrulhos feitos com tecidos e telas douradas. Comidas gostosas que eu passava o dia preparando, mesa bonita, muita luz,muito brilho! As meninas felizes, encantadas e se sentindo amadas... Tal como nos filmes que eu aprendi a gostar desde a minha infância.

Porém, eu sempre ouvia essa frase: O importante são as meninas. Na Páscoa... O importante são as meninas. No Dia das crianças... O importante são as meninas. No Natal... O importante são as meninas. No dia das mães... O importante são as meninas. No meu aniversário... O importante são as meninas.

De tanto ouvir essa frase, sem que percebesse, tornou-se 365 dias do ano... O importante são as meninas.

E eu passei a ser feliz pelas meninas, o que é natural, pois sou mãe e amo minhas filhas. Mas o lado não muito bom, era olhar ao meu redor e ver ninguém feliz por mim.

As meninas eram pequenas, e estava na hora de serem felizes pelo simples fato de serem crianças. Não era função delas, ser feliz pelos adultos, e sim serem simplesmente FELIZES! O que graças a Deus elas eram.

Fora a felicidade delas, ninguém era feliz por mim... Nem eu era feliz por mim! O brilho do meu olhar sumiu e ninguém viu. Porque ninguém era feliz pela minha felicidade. Ninguém se lembrou, nem eu mesma, que as mães também são meninas.

Uma vez eu escrevi uma coisa mais ou menos assim:

"Às vezes me pego pensando... Qual seria o exato momento em que deixamos de ser meninas, filhas, e passamos a ser mães? A resposta não me vem de forma precisa. Isso me levou a concluir que:

Mães são meninas ainda filhas.

Que num dado momento de amor, em um ato de concepção divina;

Transformaram-se em também... Mães."

Voltando...

Dias atrás fui a uma loja no Centro da cidade, essas lojas que vendem tecidos, artigos para decoração, enfim... Fui comprar tecido p cortinas e almofadas. Quando estava na fila do caixa, percebi que já estavam colocando à venda enfeites para o Natal e que a loja já estava com decoração natalina. Quando vi aquilo, desejei os enfeites e da mesma forma que desejei a chegada do Natal, comecei a idealizar coisas para as meninas e pra mim. Isso mesmo amor pra MIM! Eu depois de muito tempo, tanto tempo que eu ja nem sei exatamente quanto. Não desejei apenas por causa das meninas, mas também porque eu gosto. Eu desejei o Natal pra nós! Incluí-me no direito de ser e gozar da felicidade sem culpa. De forma natural como é o direito de toda pessoa.

Talvez você não tenha percebido, mas esse foi o maior presente que você me deu... Fez-me sentir importante. Faz algum tempo que percebi essa verdade e até registrei nos meus textos quando eu disse: “Ninguém pode suprir em você a saudade que sente de você mesmo."

Perceber é importante, porém, não TUDO. Quando nos deixamos de lado, a percepção de tal fato é o primeiro passo para o “auto reencontro”. Que vai acontecer quando conseguirmos ultrapassar a perplexidade e o sentimento de desperdício que tal percepção nos causa, e nos incluirmos no direito de gozarmos, também, das coisas que nos são caras e trazem alegria ao espírito.

Só nos reencontramos, quando legitimamos em nós o direito à felicidade.

E foi isso que você fez por mim. Viu em mim alguém importante, me tratou como tal me fazendo sentir importante, como conseqüência me levou a crer, para finalmente eu me legitimar como uma pessoa importante. Esse é o maior presente que se pode dar a alguém... O encontro consigo mesmo! Não existe forma mais linda e doce de se AMAR.

Desculpe-me pela eloqüência "pleonástica", mas a felicidade que sinto me permite o exagero:-)

'Mas eu quero o Natal novamente,

Todo festa e alegria geral

Com você ao meu lado tão lindo

O meu sonho, meu mundo ideal

O presente será como sempre...

Eu sonhava e queria afinal

O presente é você

Meu Natal.”

("Depois do Natal"/João Donato-João Mello-Lysias Enio)

V.S.H

cinara
Enviado por cinara em 11/09/2009
Reeditado em 02/12/2009
Código do texto: T1804384
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