VIDA DE PEÃO - MOTEL
Modorrenta demais aquela vida. Trabalhar, casa; casa, trabalhar. De vez em quando levar a companheira para uma esticada em um barzinho da cidade ou ao clube que ficava em frente à sua casa e só. Resumia-se a isso a diversão daquele casal feito “Eduardo e Mônica” 1 às avessas. Ele gostava de uns papos-cabeça, ela nas aulinhas ainda para terminar o primeiro grau na escola pública.
Um dia resolveu fazer um afago diferente. Convidou-a para irem a um motel. E na capital. Era um acontecimento e tanto. As duas coisas. A viagem à capital e a aventura mágica, recheada de todo o clima romântico imaginável. Vieram no ônibus que saía às seis da manhã. Antes, gostariam de dar uns passeios bucólicos e gastronômicos. Passear no parque municipal, cartão de visitas obrigatório de todos que vêm do interior pela primeira vez e comer num restaurante bacana. Peão, quando bota um décimo terceiro salário no bolso e ainda não fez dívidas, segura que é um esbanjamento só.
Do centro pegaram um táxi rumo ao anel rodoviário. O seu entorno possui em todas as saídas para outros estados, motéis para todos os gostos e bolsos. Escolheu pela indicação do motorista do táxi, que estava acostumado a esse transporte de passageiros afoitos e inexperientes no assunto (claro que ganhava uma comissãozinha do motel onde levasse clientes). Mas não tinha problemas. O lugar era bom mesmo. Bonito que só vendo!
Deslumbramento total. Piscina, sauna, frigobar, hidromassagem, tv com filmes eróticos, música ambiente, cama redonda e espelho no teto. E, no cardápio, comidinhas para antes e depois do amor. Precisava mais em um ambiente poético moderno? Pois o meu amigo não deixava de tirar proveito de nada. Era um gole no uísque on the rocks, uma entradinha na sauna, um pulo na piscina. Liga a música, põe um filme, toma mais uma, pede um tira-gosto e ela esperando ansiosa, já devidamente ornamentada de lingerie de seda, arranjando uma posição que ficasse mais sensual diante daquela imensidão de espelhos. De vez em quando ele se lembrava e ia lá lhe dar um selinho, ou um beijinho na ponta do nariz. Uma cara de felicidade que mal cabia em seu rosto. E ela, lá, agora já chamando-o insistentemente para um encontro libertino. Desejava ardentemente encerrar aquela outra “lua de mel” com um inesquecível, memorável, inolvidável e prazeroso sexo com seu amado. Depois de tanta insistência e nada do amigo “comparecer”, ela apela aos seus brios:
- Como é, vai ficar aí só nessa regalia? Vem logo, não estou me aguentando! Ele tomou mais uma tragada generosa, olhou a tabela de preços, o tempo que ainda dispunham para permanecer sem pagar mais uma diária e disparou:
- Olha amor, vamos aproveitar tudo isso aqui bastante! Sexo a gente faz lá em casa, tá bom?
-------------------------------------------------------------------1 Eduardo e Mônica são os personagens da música (de mesmo nome) de Renato Russo.