Uma cena pinturesca
Você já reparou que quando chove um estado de espírito diferente toma conta da gente também? Talvez seja só nos primeiros momentos. Talvez seja só comigo.
Não é bem melancolia. É uma sensação estranha, como se o céu chorasse.
Parece uma sensação de fragilidade. De impotência.
Mas depois, nos acostumamos. Nos acostumamos com tudo.
Com separações. Com ilusões. Com a morte. Com dinheiro. Com roupas estranhas. Com a falta de comida. Com longos beijos. Com cachaça. Com comida insossa. Com o frio. Com a praia. Com a internet. Com nove dedos. Com parentes. Mesmo com a sogra.
Só não sobrevivemos à tudo...
Outro dia, estava sentada num daqueles baquinhos de madeira, pintado de branco. Conversava com uma amiga, assuntos muitos banais. Ríamos sem motivo algum.
Depois por um momento, observei a chuva que começava.
Foi um daqueles momentos que o assunto acaba, que o fôlego acaba, que a graça acaba.
E eu fiquei olhando para a chuva que vinha fria, num dia estranho de sol.
Ela molhava o telhado e graciosamente vi como uma pomba se estreitava nos vãos das telhas e se esgueirava para fugir da chuva.
E logo sumiu na escuridão de seu abrigo.
E a chuva continuava, nos fazendo reféns... E ao mesmo tempo espectadores de sua magnitude.