SILÊNCIO
Eu recebi um soco no estomago que me fez sangrar. Meus dentes, agora vermelhos, rangem. Acho que meu cérebro parou, só sinto um vazio profundo e ocre. Nem tenho vontade de chorar, a dor já está inserida na veia, correndo feito veneno.
A rotina, o mesmo, o igual do ruim de sempre, arde demais...
Como posso odiar minha mãe? Ouço lindos relatos sobre maternidade e do quão as mães sabem ser sábias em suas limitações. Mas para todas as distancias, há o amor.
Em mim não há ou talvez ele seja muito pouco, aquele amor tênue pelos seres humanos e cômodo pela proximidade. Mas de verdade, sem firulas, tanto faz se ela sorri ou se debulha em lágrimas, se sente prazer ou amargor. A indiferença é pior que o ódio, porque ela reduz ao nada qualquer sentimento. E eu não sinto nada e viro a página para olhar meu caminho.
Tranco a porta e as paredes estão frias. Tem cheiro de umidade no quarto mas nem sinto. Estou permanentemente gripada, para ter desculpas. Gosto de volume baixo neste momento, para não acordar meus ex amigos imaginários. Passo horas olhando o teto, relembrando ações e palavras de meus sete anos e de como isso ainda afeta o meu fígado.
Demora a passar... procuro nos arquivos, outras dores, menos causticas. Quero o canivete do fundo da gaveta para cortar essa acidez. Serve copo d´água.