SABIÁ FORA DE HORA

Plena madrugada

Céu claro luzes acesas

Pássaro cantou...

(haikai)

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Acordei com um trinar fora de hora.

Consultei o rádio relógio e eram três e trinta. Faltava muito para amanhecer.

O visor não piscava, então não faltara energia.

A TV desligada.

Ufa! Lembrei-me de acionar o timer.

Tentei dormir novamente acreditando fosse um sonho ou aqueles instantes entre sonolência e vigília que temos antes do sono profundo.

O trinar voltou minutos depois.

Encafifei-me!

Parecia um sabiá.

Naquela hora?

Lembrei-me da antiga música dos anos 40, o Passarinho do Relógio, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, que dizia “cuco, cuco, cuco... O passarinho do relógio está maluco...”

Arrisquei abrir a janela e tentar espiar.

As grades de proteção impediam-me de procurar melhor o pássaro maluco que cantava de madrugada.

Insistia!

Tomei coragem e alguns tropeções depois estava quase acordado. Não era minha imaginação.

O pássaro cantava mesmo.

Eu me lembrei que um sabiá há um ano fizera um ninho no pé de maracujá.

Teria voltado e estava comemorando o parto dos ovinhos?

A noite estava lindamente clara e as luzes do prédio vizinho, esquecidas acesas, iluminavam sobremaneira o quintal, espaço raro arborizado no bairro verticalizado.

Lá estava ele pousado no muro.

Trinava e olhava como esperasse alguém ou chamando o dia a raiar tal Chantecler, o galo que imaginava controlar o dia e a noite.

Fiquei hipnotizado olhando o trinado.

Minutos depois, o sabiá deve ter percebido, que assim como eu, tinha acordado fora de hora e provavelmente foi recolher ao seu ninho.

Ou a cantar em outra freguesia, como diria minha avó.

Hoje eu e ele, talvez, estejamos pagando a conta do sono quebrado.

Demorei muito a dormir novamente.

Fiquei imaginando como é interessante trocar-se o dia pela noite.

Quando a cidade se agita recolher-se ao repouso.

Quando a cidade dorme encantar-se com um simples, solitário e maravilhoso cantar de uma ave.

Será que a luz estará brilhante e prédio esquecerá as luzes acesas?

Será que ele se deixará enganar novamente e voltará?

Por via das dúvidas, será de bom alvitre, dar um cochilo durante o dia para o caso dele voltar na próxima madrugada.

Se ele não se assustar com minha desafinação, cantaremos juntos para espantar nossos males...

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Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 10/09/2009
Reeditado em 10/09/2009
Código do texto: T1802391
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